O texto a seguir é a parte V do artigo “O Livro na Era Digital” baseado na palestra que Ednei Procópio ministrou em uma edição da Quinta Literária na Associação Nacional de Escritores (ANE), Brasília; e publicado, originalmente, no livro “Quintas Literárias 2017”. Editora Otimismo. Páginas 119 a 143.
Por Ednei Procópio
O Livro na Era Digital
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Leia a Parte IV
Parte V
Estantes sem bibliotecas
A biblioteca física poderia certamente sobreviver à Era Digital, mas, para isto, teria que utilizar o que a Indústria da Tecnologia da Informação vem chamando (em nosso tempo atual, porque no futuro terá outro nome) de ‘a Internet das coisas’.
Para que os livros físicos, dentro das bibliotecas públicas ou privadas, ganhem o leitor nas comunidades ao redor, é preciso que as bibliotecas usem de artifícios tecnológicos como a utilização dos metadados, os dados sobre os livros. As bibliotecas também podem fazer uso das etiquetas com tecnologia como a de rádio frequência, chamadas de RFID (Etiquetas para a Identificação por Rádio Frequência). E podem também usar as etiquetas de código QR (qr code) para expandir ainda mais as informações contida nos livros. As bibliotecas físicas podem dispor de ferramentas para que os próprios usuários busquem os livros, em aplicativos, dentro e fora dos terminais locais de acesso.
Os aplicativos das bibliotecas físicas do futuro podem apontar para os usuários, através de buscadores inteligentes, onde o livro se encontra fisicamente. O leitor pode expandir o seu conhecimento acessando dentro do próprio livro os códigos QR que podem apontar mais detalhes sobre a obra, mais detalhes sobre o autor, enfim a biblioteca física do futuro pode ser a porta de entrada, um verdadeiro portal para um universo expandido de conhecimento. Para isto, no entanto, se faz necessário investimento. Faz-se necessário o redesenho de um modelo eficaz de negócios para as bibliotecas físicas, urgentemente. É preciso repensar uma estratégia para a manutenção principalmente das bibliotecas públicas.
As bibliotecas físicas carecem de uma nova estruturação, não por causa do advento do livro digital que poderia eventualmente minar a frequência dos usuários. A biblioteca física pública necessita de um projeto governamental unificado e em longo prazo para manter a sua existência e até, de certo modo, a sua utilidade dentro da sociedade moderna; caso contrário pode tornar- se um peso para a sociedade que presenciará a deterioração, não somente de livros impressos. Isto poderia não somente fazer com que houvesse uma miopia em torno da questão, mas a deterioração de todo o conhecimento humano resguardado.
O livro digital não seria um concorrente para as bibliotecas físicas se estas modernizassem o modo de acesso aos livros impressos. Se o acesso ao livro nas bibliotecas físicas continuar intransponível, restrito, murado em estantes blindadas, as bibliotecas digitais tendem obviamente a minar toda a audiência de sua predecessora. Neste sentido, o futuro para a biblioteca física estará em uma écran de aproximadamente sete polegadas; onde o usuário digita a palavra-chave e encontra, ele mesmo, o conhecimento que está buscando. Em livros físicos, eletrônicos, digitais, auditivos, em Braille.
Enfim, nos livros.
Por um leitor de poucas palavras
Antes da Era Digital, o principal papel do leitor, ou a sua principal função, era ler os livros. Parece estranho e até óbvio dizer isto, mas houve um tempo em que até a divulgação dos livros estava restrita a resenhas publicadas em jornais e revistas impressas. Ou seja, o leitor tinha acesso à resenha do livro feita por um jornalista que efetivamente lia a obra para criar a sua resenha e, com isso, o leitor decidia sobre a compra. Depois disto, apenas lia o seu livro.
Houve uma época em que a leitura era um ato solitário, silencioso. As livrarias mantinham estoque de livros nos fundos das lojas e as bibliotecas mantinham a placa de ‘SILÊNCIO’ no lugar mais visível dentro de um recinto. Na Era Digital o leitor não só compra um determinado livro, mas também o indica quando gosta da leitura.
Hoje, o leitor é capaz de tecer uma resenha sobre a obra, sem que tenhamos que discutir a sua qualidade textual, e a publica em diversos canais da Internet como livrarias online, comunidades literárias, blogs, redes sociais e até mesmo nos canais que antes eram exclusivos dos resenhistas culturais. Para aqueles que lerão este texto no futuro, para pesquisa ou curiosidade, o cenário atual é de uma frustração e desânimo quase que generalizados. Há livros demais e leitores de menos. Em nosso país a leitura é rasa entre os mais jovens, sem aprofundamento, dominante em contraste com uma audiência insana do que nós chamamos atualmente de redes sociais. Há uma exceção, mas nem valeria a penas citarmos.
As redes sociais atualmente não podem ser chamadas de redes de leituras sociais porque a interação avança em nível alarmante, enquanto a superficialidade destas interações cria ruídos em todas as esferas culturais. Este cenário reflete um contraste que não pode ser dito como típico apenas do mercado editorial. Trata-se de um efeito cuja causa se confunde com a história da própria Internet.
O mercado editorial por sua vez, embora necessite que os livros sejam comprados e lidos, não quer criar consumidores, nem leitores ele próprio. Não cria um plano de ação a curto, médio e longos prazos para ele mesmo aumentar o seu próprio efetivo de leitores e com isso fortalecer o mercado. E culpa o Governo pelo lento processo de ensino e aprendizado. Depois do advento da Internet, a cadeia produtiva do livro, portanto, carece de seu principal agente: o leitor. E sobre isto não há muito, infelizmente, o que mais acrescer a não ser a máxima de que se não há leitores, os livros não fazem sentido.
Este texto é parte do artigo “O Livro na Era Digital” baseado na palestra que Ednei Procópio ministrou em uma edição da Quinta Literária na Associação Nacional de Escritores (ANE), Brasília; e publicado, originalmente, no livro “Quintas Literárias 2017”.
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