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Uma editora se faz com livros

O texto a seguir é a parte II do artigo “O Livro na Era Digital” baseado na palestra que Ednei Procópio ministrou em uma edição da Quinta Literária na Associação Nacional de Escritores (ANE), Brasília; e publicado, originalmente, no livro “Quintas Literárias 2017”. Editora Otimismo. Páginas 119 a 143.

Por Ednei Procópio

O Livro na Era Digital

Leia a Parte I

Parte II

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Uma editora se faz com livros

Antes da Era Digital somente uma editora controlava e comutava os meios de produção das obras literárias. O editor, nesta fase, era deus. Um semideus pelo menos. Era ele quem decidia através de um rico ecossistema de fabricação (ou seja, um sistema econômico que inclui personagens e ambiente propício, com características de inter-relações entre ambos) qual livro seria publicado e era ele quem decidia quais obras ficariam no limbo do esquecimento.

O editor era de certo modo uma figura ainda mais importante que a do escritor, pois a sua função social era a de levar os melhores produtos literários às estantes de livrarias e bibliotecas. Às vezes eu me pergunto: quantos bons livros deixaram de ser publicados quando a seleção dos títulos passava somente por um viés econômico? Mas quantos títulos se tornaram públicos exatamente pela sua carga de qualidade literária?

No Brasil, este período durou aproximadamente dois séculos. Duzentos anos. Muito pouco se comparado ao período de desenvolvimento da mídia editorial na Europa e América do Norte. O auge de nossa indústria se manteve entre os anos vinte até no máximo a década de 1980. Na década seguinte, o mercado estagnou-se e entrou em um novo estágio de profunda catalepsia involuntária. Alguma coisa estava acontecendo, mas os editores não sabiam o que era.

Hoje, mais distanciados, nós sabemos, era a Internet que nascia em alguma garagem de Seattle enquanto os editores mantinham-se muito ocupados com as suas demandas intelectuais e políticas de direita ou esquerda. Nascia, naquele momento, a miniaturização dos processadores de dados. Antigos mainframes gigantescos, cujas válvulas apagavam e acendiam para processar dados, estavam sendo substituídos por microprocessadores minúsculos, em comparação, substituídos por condutores de eletricidade à base de silício. Um nobre e decisivo condutor de eletricidade recém-incorporado à tabela periódica.

Mas como os editores poderiam prever que somente esta atualização nos livros de ciências não seria apenas mais uma edição de seus livros vendida nas escolas? Os editores também não poderiam prever que, somente aquela mudança de paradigma nos modos de produção computacional não seria suficiente para alterar o destino do mercado. O mercado estava aprendendo a ler. O mercado leitor, antes involuntário e manipulável, estava aprendendo a escolher, a selecionar. Estava aprendendo a consumir aquilo que de fato tinha desejo. Era uma nova era para toda a indústria cultural.

Os escritores começaram a perceber o poder que existia por trás da mídia editorial, mas as editoras não sabiam que mais à frente teriam que enfrentar o seu mais forte concorrente, ou inimigo: a falta de tempo. Tempo para repensar o seu negócio. Tempo para enfrentar a forte concorrência de grupos editoriais estrangeiros incentivos pela globalização, pela exploração de novos territórios. E as editoras, que antes se davam ao luxo de publicar apenas os livros impressos, tiveram que reinventar o seu business.

Algumas editoras compraram parques gráficos, com as suas gigantescas máquinas de impressão para alavancar os seus negócios e optaram no final das contas por um péssimo caminho. Outras resolveram atravessar o distribuidor de livros, vendendo exemplares diretamente para os livreiros e simplesmente enfraquecendo ainda mais toda a cadeia produtiva do livro já frágil de ilusões vendendo diretamente para o público leitor a ilusão do livro barato.

Muitas editoras, porém, simplesmente optaram por ignorar o livro digital no início dos anos 2000. Elas subestimaram a Internet como catalisadora, como mola propulsora dos novos tempos. E, por esta razão, mas não só por esta, muitas amargaram o sabor de sua própria intelectualidade incapaz de prever um futuro conectado. Muitas fecharam e sequer são citadas nos anais da história. Algumas ainda tentaram resistir às mudanças até o último momento. E o futuro já aponta um caminho para aquelas que sem perder tempo resolveram mudar os rumos de seus negócios. Tiraram as máquinas gráficas dos centros de suas operações e passaram a canalizar todo o seu poderio em conteúdo.

Agora, uma questão das mais importantes: seria realmente o conteúdo a chave para um novo negócio para o livro?

Este texto é parte do artigo “O Livro na Era Digital” baseado na palestra que Ednei Procópio ministrou em uma edição da Quinta Literária na Associação Nacional de Escritores (ANE), Brasília; e publicado, originalmente, no livro “Quintas Literárias 2017”.

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