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Aprendendo com o passado dos livros eletrônicos

É impressionante perceber que, quanto mais avançam as tecnologias que envolvem eBooks, em menor espaço de tempo as novidades são colocadas à prova pelo mercado.

Em 2012, o primeiro projeto relevante da empresa Sony Corporation na área de livros eletrônicos, o Data Discman, completava duas décadas de vida. Estamos entrando em 2018, o ano em que o Roclet eBook completa duas duas de vida, e é impressionante perceber que, quanto mais avançam as tecnologias que envolvem eBooks, em menor espaço de tempo as novidades são colocadas à prova pelo mercado de livros. Imaginemos então tudo o que foi apresentado no período de duas décadas, onde o livro eletrônico saltou de um estrondoso fracasso comercial para uma nova e empolgante possibilidade de experiência para a leitura.

Insisto nesta mania de olhar para trás quando escrevo sobre eBooks porque o distanciamento me parece um dos poucos modos seguros de vislumbrar um futuro para os livros. Em 2002, por exemplo, as empresas desenvolvedoras dos e-readers da primeira geração Rocket eBook e SoftBook, respectivamente NuvoMedia e SoftBook Press, foram entregues a Gemstar, uma subsidiária da RCA que, por sua vez, vendera os dois projetos para a Google em 2012. Isso na prática, quer dizer, que os projetos que envolvem livros eletrônicos vão saltando de mãos em mãos até encontrar um gerente que os mantenha num modelo de negócios seguro, ou simplesmente desaparecem sem deixar vestígios.

Mesmo com a atual velocidade com que aparecem as novidades tecnológicas, e antigas certezas são postas à prova, ainda não consideraria como um caminho saudável transformar os livros em periódicos. Ou seja, não consideraria transformar minhas obras sobre livros digitais em edições correntes, atualizadas constantemente como se fossem um jornal ou revistas (mesmo suas versões digitais). Não vejo como encarar um determinado título como algo realmente inacabado, que deve estar sempre sendo reescrito, em constante atualização como se fosse um blog. Ao perce que, com o avanço constante da tecnologia o conteúdo de muitos livros estavam se tornando obsoletos, preferi contestar o presente, analisar o passado, para vislumbrar um futuro.

Como saber o cenário das décadas passadas?

A velocidade com que nos deparamos com as novidades tecnológicas é tão rápida que muitas obras de não ficção podem simplesmente ser consideradas defasadas apenas seis meses depois de seu lançamento. E essa é uma das razões de os livros estarem correndo o risco de se tornarem periódicos. Percebi isso, por exemplo, quando recebi a última revisão do texto original de um livro que publiquei, que me alertava para o fato de que os números apresentados em meu livro já poderiam ser considerados defasados. A revisão me pôs em alerta. Como é que um determinado dado, registrado para futuras consultas, pode ser considerado defasado antes mesmo de ser publicado?

Tive que deixar ainda mais claro para os futuros leitores da obra que, os números de mercado, apresentados naquele livro, refletiam um momento, um cenário, uma fotografia, enfim, um recorte de um período em que o mercado de eBooks parecia expandir-se por um novo caminho. Um caminho bem diferente daquele imaginado pela Sony décadas antes. E aprendi, naquele momento, que os livros de não ficção à partir de então devem deixar muito claro o cenário, o contexto em que estão sendo escritos.

No início da década de 1990, a Internet ainda era um projeto acadêmico e não havia se transformado no meio extraordinário de comunicação e exploração comercial como ela é hoje. A Sony lançava no mercado norte-americano, um dispositivo para a leitura de livro eletrônico chamado Data Discman. Um percursor da primeira geração de e-readers que viria a seguir.

Há mais de duas décadas, Sony lançava seu primeiro Electronic Book Player. Foto: modelo DD-1EX
Há mais de duas décadas, Sony lançava seu primeiro Electronic Book Player. Foto: modelo DD-1EX

Livros eletrônicos em dispositivos magnéticos físicos

Por rodar livros em cima de uma mídia física, ou seja, pré-gravados em discos (protegidos como os antigos disquetes), o Electronic Book Player fora desenvolvido totalmente para leitura no modo offline e o conteúdo podia ser pesquisado através de um teclado do tipo QWERTY (também físico, bastante parecido com o dos BlackBerrys. Será que alguém ainda lembra deles?).

De certo modo, o Data Discman era uma tentativa da Sony de repetir o sucesso do antológico Walkman, dessa vez com livros. Mas ao contrário de seu predecessor, que tocava áudio que poderia ser encontrado aos montes em lojas especializadas (fora as fitas do tipo K7 que se tornaram bastante populares e podiam ser gravadas pelos próprios usuários), o Data Discman carecia de conteúdo.

Um Data Discman modelo padrão, como o DD-1EX da foto acima, por exemplo, tinha uma tela de LCD de baixa resolução e em escala de cinza, como nos primeiros Palmtops, com baixo poder de processamento. Ao contrário dos Palms, no entanto, trazia um drive de CD com a tecnologia e o padrão proprietários, que rodava enciclopédias, dicionários, além das obras literárias. Que não eram facilmente encontrados em livrarias, nem nos melhores magazines do ramo.

Como era de se esperar, o Data Discman teve pouco ou nenhum interesse do público, principalmente fora do Japão (país sede da Sony). Em vez disso, agendas eletrônicas do tipo Palm foram os dispositivos que ganharam popularidade e conquistaram o consumidor. Um pouco mais tarde, o Palm Reader foi a solução de aplicativo para a leitura dos livros nos devices portáteis daquele período que avançou até o lançamento do Sony Libriè para o mercado japonês.

Nada se cria, tudo se compartilha

Há semelhanças entre o Data Discman e o Palm. Há semelhanças entre o Palm e o BlackBerry. Há semelhanças entre o Rocket eBook e o Sony Reader (lançados em 1998 e 2005, respectivamente, no mercado americano). Mas o que geralmente é enxergado são apenas as diferenças entre esses equipamentos todos desenvolvidos dentro de um período que vai de 1990 a 2010.

A internet mudou muito desde aquelas duas décadas e, parte do conteúdo que existia naquela chamada Web 1.0, de meados da década de 1990, praticamente já não existe mais. Se algum pesquisador buscar até os números referentes ao período que antecede o lançamento do Kindle, que inaugura a segunda geração de e-readers, terá que vasculhar bastante para encontrar alguma análise relevante.

É neste sentido que, nos meus três primeiros livros, tentei contextualizar ao máximo os dados do mercado e cenários apresentados. Penso em um contexto futuro, usando históricos e cases de sucesso ou fracasso do passado para ampliar a visão do presente. E tentei fazer isto novamente com minha última obra lançada porque eu sei que alguns pesquisadores precisarão de informações, analisadas e comentadas, para eventualmente até usar de comparação em seus trabalhos.

Por exemplo, algum profissional poderá futuramente se perguntar que porcentual representava a venda de eBooks no Brasil, em comparação com o mercado de livros impressos, quando big players como Kobo, Google e Amazon aportaram no país. Se ele fizer uma comparação com dados em um mesmo nível de apuração, usando os mesmos critérios de levantamento, poderá obter o percentual de crescimento mais próximo da realidade até o seu próprio período (mesmo que alguns players continuem ocasionalmente tentando manipular os números como tentam fazer hoje).

Agora, se a internet continuar impondo seu ritmo avassalador de criação, armazenamento e compartilhamento de informação e conteúdo, esta tarefa de pesquisa pode se tornar cada vez mais difícil de ser realizada. E obras contemporâneas, que mais do que registrar um período, contextualiza os números e cenários, pode ajudar profissionais a compreender o passado mas, principalmente, o futuro dos livros.

Foi assim que, por conta da velocidade com que novidades surgem, em formato de projetos, startupsapps, produtos, softwareshardwares, plataformas, etc., fui obrigado a voltar ao básico no meu novo livro. Procurei encontrar semelhanças entre as coisas aparentemente diferentes, e diferenças naquelas que nos são aparentemente semelhantes.

Por Ednei Procópio

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