No início da década de 1970, uma revelação surpreendente ganhou as manchetes na Itália: um monge beneditino afirmava ter codirigido a invenção de uma máquina capaz de fotografar o passado. O Padre Pellegrino Maria Ernetti, musicólogo e cientista, relatou haver desenvolvido um aparelho denominado Cronovisor, que permitiria assistir a eventos históricos como se fossem transmissões de TV ao vivo.
Em 2 de maio de 1972, o respeitado semanário La Domenica del Corriere publicou uma matéria de capa intitulada “Inventata la macchina che fotografa il passato” (Inventada a máquina que fotografa o passado), revelando ao público essa descoberta extraordinária. A reportagem – escrita pelo jornalista Vincenzo Maddaloni – descrevia em detalhes o testemunho de Padre Ernetti.
Padre Ernetti, nascido em 1925, era conhecido por sua erudição em música antiga (chegou a liderar a cadeira de Música Pré-Polifônica no Conservatório de Veneza) e por seus estudos científicos pouco convencionais. Ele também atuava como exorcista renomado, acostumado a transitar entre fé e fenômenos inexplicáveis. As investigações de Padre Ernetti rumo ao Cronovisor teriam começado nos anos 1950, motivadas por uma curiosa experiência. Em 15 de setembro de 1952, enquanto trabalhava com o padre Agostino Gemelli gravando cantos gregorianos em Milão, Ernetti afirmou ter captado uma voz misteriosa no gravador.
A tal voz parecia ser do pai falecido de Gemelli, respondendo a uma invocação emocionada do filho – um episódio que deixou ambos atônitos. Os dois religiosos levaram o ocorrido ao Papa Pio XII, que os tranquilizou dizendo que tal comunicação poderia ser um fato científico, “uma pedra fundamental para estudos científicos que fortalecerão a fé”. Esse evento insólito inspirou Ernetti a conjecturar que sons (e eventualmente imagens) do passado poderiam persistir de alguma forma no ambiente, acessíveis à tecnologia certa.
Determinando-se a investigar essa possibilidade, Ernetti voltou a Veneza e passou a dedicar-se à física acústica e eletrônica aplicada à música. Em 1956, conforme relatou depois, iniciou estudos sistemáticos sobre as oscilações sonoras e sua desintegração. Contando com apoio da Fundação Cini e colaborando com acadêmicos – como o Professor De Matos, que o ajudou em 1957 a formular a teoria das ondas residuais – Ernetti reuniu uma equipe multidisciplinar secreta. Doze cientistas teriam trabalhado ao seu lado no projeto do Cronovisor, incluindo dois nomes de peso que Ernetti mais tarde revelou: Enrico Fermi, laureado físico nuclear, e Wernher von Braun, o célebre engenheiro de foguetes.

Segundo Ernetti, essa equipe internacional conseguiu conceber e construir um aparato singular, algo mais próximo de uma ‘televisão temporal’ do que de uma máquina do tempo tradicional. O princípio de funcionamento, explicava ele, baseava-se em uma premissa aceita pela física: nenhuma emissão sonora ou luminosa desaparece totalmente. “As ondas sonoras e visuais, uma vez emitidas, não se destroem, mas se transformam e permanecem eternas e onipresentes, podendo portanto ser recompostas, já que são formas de energia”, afirmou Ernetti ao definir a teoria por trás do aparelho.
Para sintonizar essas manifestações do passado, era necessária uma tecnologia especial. “Captar, mas como?” – questionava-se na entrevista. “Com o uso de aparelhos adequados… Nosso grupo foi o primeiro do mundo a construí-los. O equipamento é formado por uma série de antenas orientáveis, para permitir a sintonia das várias vozes e imagens individuais”, explicou Ernetti.
Cada ser humano, do nascimento à morte, “deixa atrás de si uma dupla esteira – sonora e visual – uma espécie de carteira de identidade única para cada pessoa”, acrescentou. Com base nessa assinatura energética, a máquina poderia reconstruir fielmente “a pessoa em todos os seus atos e palavras”, tornando possível “ouvir e ver novamente os maiores personagens da história”. Em outras palavras, todos os eventos do passado deixariam um rastro permanente no éter que o Cronovisor saberia decodificar e reproduzir como áudio e vídeo.
Com o protótipo do Cronovisor funcional, Ernetti e seus colegas empreenderam viagens observacionais através do tempo – sem moverem-se fisicamente, mas sim sintonizando épocas remotas. Os relatos atribuídos a Ernetti são assombrosos. Ele disse ter assistido a discursos de Napoleão Bonaparte, viu cenas da Roma Antiga e ouviu orações pronunciadas no Senado romano. Afirmou ter presenciado a encenação original de “Thyestes”, tragédia perdida do poeta latino Quinto Ênio (século II a.C.), conseguindo reconstruir integralmente esse texto clássico graças ao aparelho.
No ápice de suas experiências, Ernetti declarou ter testemunhado os últimos dias de Jesus Cristo na Terra – a Última Ceia, a agonia no Calvário e a Crucificação de Cristo no Gólgota. “Vimos… a tragédia Thyestes… e a crucificação de Cristo”, relatou ele, mencionando ainda ter captado a voz de Benito Mussolini e registrado inúmeros outros eventos históricos esquecidos. A própria imagem do Salvador na cruz teria sido obtida: “A imagem de Cristo na cruz foi comparada com o Sudário de Turim: há correspondências”, garantiu Ernetti, aludindo à semelhança entre o rosto capturado pelo Cronovisor e a famosa relíquia santificada. De fato, a reportagem de 1972 exibiu uma fotografia em preto e branco do suposto rosto de Cristo crucificado, apresentada como prova visual colhida pela máquina.
Diante de revelações tão impactantes, surgem perguntas inevitáveis: Por que essa invenção não foi exposta abertamente ao mundo? Onde está o Cronovisor agora? Padre Ernetti alegou que, após avaliar os resultados, as autoridades eclesiásticas concluíram que o dispositivo era perigoso demais para cair em mãos erradas. “O Papa Pio XII nos ordenou desmontar o aparelho”, contou Ernetti. “Seria perigoso se caísse em mãos erradas. Imagine alguém espionando segredos de Estado ou manipulando a história”.
O monge ressaltou os riscos éticos e políticos: um artefato capaz de bisbilhotar o passado sem restrições poderia “sovvertire l’ordine costituito” – subverter a ordem estabelecida – nas palavras atribuídas à cúpula do Vaticano da época. Assim, decidiu-se ocultar o Cronovisor.
Segundo Ernetti, a máquina foi desmontada e guardada em segredo, à espera de que autoridades competentes definissem controles rigorosos para seu uso seguro. Ainda assim, Ernetti insinuou que outros estavam no encalço da mesma descoberta: “Os americanos também estão tentando descobrir o que nós já encontramos. Então teremos a refutação e a confirmação de nossos resultados”, afirmou, sugerindo que laboratórios dos EUA trabalhavam em algo semelhante e em breve poderiam corroborar sua invenção.

Todas essas declarações vieram à tona principalmente na entrevista exclusiva concedida por Ernetti ao jornalista Vincenzo Maddaloni em 1972. A seguir, apresentamos a transcrição daquela conversa histórica, publicada em La Domenica del Corriere em 2 de maio de 1972, com os trechos originais em italiano acompanhados de tradução para o português:
Introdução do jornalista (V. Maddaloni): “Forse ho visto il vero volto di Cristo in un’immagine ‘catturata’ dallo spazio. Ho parlato con l’inventore della macchina che, localizzando suoni del passato, permette la ricostruzione di interi eventi storici. Ho ascoltato, per la prima volta, cose che nessuno aveva mai udito. Ho visto cose che nessuno aveva mai visto. Ho vissuto giorni in un’altra dimensione.”
Tradução: “Talvez eu tenha visto o verdadeiro rosto de Cristo em uma imagem ‘capturada’ do espaço. Falei com o inventor da máquina que, localizando sons do passado, permite a reconstrução de inteiros eventos históricos. Ouvi, pela primeira vez, coisas que ninguém jamais ouvira. Vi coisas que ninguém jamais vira. Vivi dias em outra dimensão.”
Relato inicial (Maddaloni): “Un mese fa, una persona della quale non posso fare il nome, e che chiamerò signor X, mi dice che Padre Pellegrino Ernetti, un monaco dell’ordine benedettino, assieme a un gruppo di dodici fisici è riuscito a costruire un complesso apparecchio di altissima precisione che consente di ricostruire immagini, suoni, avvenimenti accaduti centinaia e centinaia di anni or sono. Tra l’altro, la macchina avrebbe ‘catturato’ dallo spazio il vero volto di Cristo sulla croce mentre era ancora vivo. Padre Ernetti dichiara: ‘Gli americani stanno tentando di scoprire quello che noi abbiamo già trovato. Allora avremo la smentita e la conferma dei nostri risultati.’”
Tradução: “Há um mês, uma pessoa cujo nome não posso revelar, e a quem chamarei de senhor X, me disse que o padre Pellegrino Ernetti, um monge da ordem beneditina, junto com um grupo de doze físicos, conseguiu construir um complexo aparelho de altíssima precisão que permite reconstruir imagens, sons, eventos ocorridos há centenas e centenas de anos. Entre outras coisas, a máquina teria ‘capturado’ do espaço o verdadeiro rosto de Cristo na cruz enquanto ele ainda estava vivo. Padre Ernetti declara: ‘Os americanos estão tentando descobrir o que nós já encontramos. Então teremos a refutação e a confirmação de nossos resultados.’”
Diálogo com Padre Ernetti:
Maddaloni: “Padre Ernetti, lei sostiene che, con la sua équipe, ha inventato una macchina capace di ricostruire voci e vicende del passato. Come è possibile?”
Tradução: “Padre Ernetti, o senhor afirma que, com sua equipe, inventou uma máquina capaz de reconstruir vozes e histórias do passado. Como isso é possível?”
Ernetti: “È stato possibile raggiungere, con l’aiuto della scienza e della tecnologia, ciò che gli antichi già sospettavano. Pitagorici e Aristosseniani avevano compreso, nel IV secolo a.C., che attraverso la disintegrazione dei suoni si poteva ottenere la ricostruzione delle immagini. Mancavano solo i mezzi.”
Tradução: “Foi possível alcançar, com a ajuda da ciência e da tecnologia, o que os antigos já suspeitavam. Pitagóricos e aristoxenianos entenderam, no século IV a.C., que através da desintegração dos sons poderíamos obter a reconstrução das imagens. Só faltavam os meios.”
Maddaloni: “Come è iniziata questa scoperta?”
Tradução: “Como começou essa descoberta?”)
Ernetti: “Nel 1956, iniziai studi sulle oscillazioni elettroniche applicate alla musica. Insegno prepolifonia e sono titolare dell’unica cattedra al mondo in questa materia, al Conservatorio Benedetto Marcello di Venezia. Il nostro lavoro ha coinvolto l’analisi di trattati antichi come il Gītalankāra (III-IV secolo a.C.) e esperimenti sulla disintegrazione del suono. La Fondazione Cini di Venezia ci ha sostenuto, e nel 1957 incontrai il Professor De Matos, che mi aiutò a sviluppare la teoria delle ‘onde residue’.”
Tradução: “Em 1956, iniciei estudos sobre oscilações eletrônicas aplicadas à música. Leciono prepolifonia e sou titular da única cátedra do mundo nessa matéria, no Conservatório Benedetto Marcello de Veneza. Nosso trabalho envolveu a análise de tratados antigos, como o Gītalankāra (séculos III-IV a.C.), e experimentos sobre a desintegração do som. A Fundação Cini, de Veneza, nos apoiou, e em 1957 conheci o professor De Matos, que me ajudou a desenvolver a teoria das ondas residuais.”
Maddaloni: “Come funziona il Cronovisore?”
Tradução: “Como funciona o Cronovisor?”
Ernetti: “Ogni energia sonora e visiva emessa da un evento rimane nell’etere. Il Cronovisore sintonizza queste vibrazioni residue e le converte in immagini e suoni. Ogni essere umano lascia una ‘traccia’ unica di energia durante la vita, una sorta di ‘carta d’identità’ che possiamo ricostruire. Usiamo antenne speciali e cristalli per captare queste frequenze.”
Tradução: “Toda energia sonora e visual emitida por um evento permanece no éter. O Cronovisor sintoniza essas vibrações residuais e as converte em imagens e sons. Cada ser humano deixa um ‘rastro’ único de energia durante a vida, um tipo de ‘carteira de identidade’ que podemos reconstruir. Usamos antenas especiais e cristais para captar essas frequências.”
Maddaloni: “Quali eventi ha testimoniato?”
Tradução: “Quais eventos o senhor testemunhou?”
Ernetti: “Abbiamo visto discorsi di Napoleone, scene dell’Antica Roma, la tragedia Thyestes di Quinto Ennio (169 a.C.) e… la crocifissione di Cristo. Abbiamo registrato persino la voce di Mussolini. L’immagine di Cristo sulla croce è stata confrontata con la Sindone di Torino: ci sono corrispondenze.”
Tradução: “Vimos discursos de Napoleão, cenas da Roma Antiga, a tragédia Thyestes de Quinto Ênio (169 a.C.) e… a crucificação de Cristo. Gravamos até mesmo a voz de Mussolini. A imagem de Cristo na cruz foi comparada com o Sudário de Turim: há correspondências.”
Maddaloni: “Perché il Vaticano non ha divulgato questa tecnologia?”
Tradução: “Por que o Vaticano não divulgou essa tecnologia?”
Ernetti: “Papa Pio XII ci ordinò di smontare l’apparato. Sarebbe pericoloso se cadesse in mani sbagliate. Immagini se qualcuno lo usasse per spiare segreti di Stato o manipolare la storia.”
Tradução: “O Papa Pio XII nos ordenou desmontar o aparelho. Seria perigoso se caísse em mãos erradas. Imagine se alguém o usasse para espionar segredos de Estado ou manipular a história.”
Maddaloni: “Ci sono prove concrete?”
Tradução: “Há provas concretas?”
Ernetti: “Abbiamo filmati in bianco e nero, come la Passione di Cristo. Gli americani stanno replicando i nostri esperimenti. Aspettiamo le loro conferme.”
Tradução: “Temos filmagens em preto e branco, como a Paixão de Cristo. Os americanos estão replicando nossos experimentos. Aguardamos as confirmações deles.”
Fim da entrevista publicada em 02/05/1972.

A matéria de 1972 terminou com o anúncio cauteloso de Ernetti de que aguardava confirmações externas para sua descoberta. Após aquela publicação explosiva, Padre Ernetti manteve-se discreto em público sobre o assunto, seguindo provavelmente orientações da Igreja. Contudo, Ernetti nunca negou a existência do Cronovisor – ao contrário, sustentou seu relato até o fim da vida, oferecendo aqui e ali detalhes adicionais a interlocutores de confiança.
O escritor e teólogo francês François Brune, que conheceu Ernetti por volta de 1964 em Veneza, conversou longamente com o monge sobre a máquina. Ernetti lhe confidenciou que o Cronovisor não havia sido destruído, apesar de desmontado: continuaria guardado em segredo nas profundezas do Vaticano, mantido longe das vistas do mundo. Segundo Brune, Ernetti acreditava que o aparelho permanecia armazenado sob tutela eclesiástica, “trancado nos cofres do Vaticano”, aguardando talvez um momento em que a humanidade estivesse preparada para utilizá-lo com responsabilidade.
Já próximo do fim da vida, Padre Ernetti ainda deu a entender que o alto escalão da Igreja seguia acompanhando o caso. Em 1993, poucos meses antes de falecer, Ernetti afirmou ter sido chamado a Roma para uma reunião a portas fechadas com quatro cardeais e um comitê internacional de cientistas, diante dos quais apresentou os feitos do Cronovisor. O encontro reservado em 30 de setembro de 1993 indica que, pelo menos na visão de Ernetti, sua invenção continuava a despertar interesse nos círculos mais elevados do Vaticano. Padre Ernetti morreu em 8 de abril de 1994, sem jamais revelar publicamente os segredos técnicos do Cronovisor – alegando sempre que havia jurado sigilo para evitar usos indevidos da máquina.
Ao longo de toda a saga, Padre Pellegrino Ernetti manteve-se firme em seu testemunho. Em cartas e entrevistas concedidas a autores como Peter Krassa e François Brune, reiterou as incríveis experiências que viveu através da ‘janela para o passado’ que ajudou a criar. Nunca apresentou provas conclusivas além de uma controversa foto de 1972 (que não se sabe se foi publicada erroneamente pelo semanário La Domenica del Corriere) do texto latino de Thyestes que dizia ter transcrito, mas tampouco abriu mão de sua palavra.
Tudo o que sabemos sobre o Cronovisor vem diretamente das palavras de Ernetti – palavras estas que ele garantiu serem verdadeiras até o último suspiro. Terá mesmo existido uma máquina que fotografa o passado? Padre Ernetti insistiu que sim, legando-nos uma história fascinante cuja veracidade permanece envolta em mistério. O certo é que sua matéria de 1972 segue ecoando através das décadas como um convite à imaginação – e um enigma que resiste ao passar do tempo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUNE, François. Le nouveau mystère du Vatican. Paris: Albin Michel, 2002. ISBN 978-2-226-13070-9.
TEODORANI, Massimo. Chronovisor: un sogno del futuro o esperimenti reali? Cesena (FC): Macro Edizioni, 2006. 109 p.
BORELLO, Luigi. Come le pietre raccontano la storia. Cavallermaggiore: Gribaudo, 1989. 214 p.
COLANGELI, César. Materia e radiazione: origine e struttura; teoria unitaria dell’universo fisico. Milano: U. Hoepli, 1950.
COLANGELI, César. Universo meccanico: materia, radiazione, gravitazione. Origine della materia e della radiazione. Milano: Hoepli, 1954.
PAVANA, Carlo. Il cronovisore: un sogno futuristico o un esperimento reale? Disponível em: https://www.electroyou.it/carlopavana/wiki/il-cronovisore-un-sogno-futuristico-o-un-esperimento-reale. Acesso em: 25 maio 2025.