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“O Chamado da Luz”: Um Estudo de Caso sobre o Romance Mediúnico

A literatura mediúnica brasileira, ao longo de mais de um século de produção ininterrupta, consolidou-se não apenas como um fenômeno religioso, mas como um vasto campo de investigação sociológica, psicológica e filosófica. Dentro deste espectro, o romance mediúnico ocupa um lugar de destaque, servindo como a principal via de acesso para leitores que buscam compreender a complexa mecânica da existência espiritual por meio de narrativas que espelham não somente as dores mas principalmente as esperanças da condição humana.

É neste cenário vibrante e em constante evolução que a obra “O Chamado da Luz”, psicografada pela médium Adriana Machado e ditada pelo espírito Jefferson, emerge como um marco editorial e doutrinário significativo para o ano de 2026.

Nesse artigo proponho uma análise desta obra, situando-a não apenas como uma sequência narrativa de seu antecessor, “O Chamado das Sombras”, mas como um tratado complexo sobre a ética da alteridade e a psicologia da reparação. A “O Chamado da Luz” chega ao mercado sob a chancela da Editora Dufaux, uma casa editorial que historicamente tem privilegiado o enfoque no autoconhecimento e na educação emocional à luz do Espiritismo.

Através da análise dos elementos paratextuais, da estrutura narrativa, dos perfis psicológicos das personagens e do contexto editorial, busco demonstrar como “O Chamado da Luz” transcende o entretenimento para se tornar uma ferramenta de educação de corações, alinhada com a missão institucional de sua editora.

A relevância deste artigo justifica-se pela necessidade de compreender como a literatura espírita contemporânea tem respondido às angústias do século XXI. Se as obras clássicas de meados do século XX focavam na fenomenologia e na descrição das cidades espirituais, a nova geração de romances, exemplificada pela escrita de Adriana Machado, volta-se para as zonas abissais da psique, explorando a culpa, o vício e a depressão não como estigmas, mas como etapas de um processo evolutivo necessário. Acompanharemos a seguir a jornada de Jefferson — de algoz a socorrista — e como essa transição reflete uma mudança paradigmática na compreensão da justiça divina: de punitiva para restaurativa.

O Chamado das Sombras

Da Queda ao Recomeço

Para apreender a totalidade da proposta de “O Chamado da Luz”, é imperativo revisitar as fundações estabelecidas no primeiro volume da série, “O Chamado das Sombras”. A relação entre os dois livros não é meramente sequencial; trata-se de uma estrutura dialética onde o primeiro volume apresenta a tese (a queda e a obsessão) e o segundo apresenta a antítese e a síntese (a redenção e o trabalho no bem).

A Anatomia da Obsessão

No primeiro tomo, a narrativa concentrou-se na gênese do processo obsessivo. A pergunta motriz que guiava a leitura era: O que leva o espírito à obsessão?. Jefferson, o protagonista, narra sua própria descida moral, detalhando como atuava induzindo encarnados ao vício, ao crime e ao desespero. A obra dissecou a mecânica da influência espiritual negativa, mostrando que a obsessão não é um evento isolado, mas um processo simbiótico que explora as brechas morais e emocionais da vítima.

O ponto de virada em “O Chamado das Sombras” ocorre quando o encontro com uma família fortalecida na fé abala as certezas de Jefferson, inaugurando o que a crítica descreve como uma fresta de mudança. Este primeiro volume serviu para desmistificar a figura do obsessor, apresentando-o não como um demônio irredimível, mas como um ser em sofrimento, preso às suas próprias ilusões de poder e vingança.

A Inversão de Polaridade em “O Chamado da Luz”

Em “O Chamado da Luz”, a chave narrativa muda drasticamente. A pergunta central desloca-se para: O que leva o espírito à redenção?. A obra é apresentada oficialmente como a continuação direta e natural, onde a fresta aberta no livro anterior se transforma em um caminho pavimentado pelo serviço.

A tabela a seguir sintetiza as diferenças fundamentais e a complementaridade entre as duas obras, evidenciando o arco evolutivo proposto pela autora e pelo espírito comunicante:

Aspecto AnalíticoVolume 1: O Chamado das SombrasVolume 2: O Chamado da Luz
Foco NarrativoA gênese da queda e a mecânica da obsessão.A dinâmica da redenção e a prática do auxílio.
Papel do ProtagonistaJefferson como algoz, indutor de vícios e desespero.Jefferson como trabalhador da luz e socorrista.
Motivação CentralVingança, poder e manutenção das trevas.Misericórdia, reparação e resgate de antigos aliados.
Ambiente PredominanteZonas de sofrimento vistas sob a ótica do dominador.As mesmas zonas, revisitadas sob a ótica do amparo.
Questão Filosófica“O que leva o espírito à obsessão?”“O que leva o espírito à redenção?”
Dinâmica RelacionalSubjugação e medo.Empatia, perdão e horizontalidade no auxílio.

A análise comparativa revela que o projeto literário da escritora Adriana Machado foi concebido para que cada livro funcione isoladamente, mantendo sua coerência interna, mas oferecendo ganhos significativos de compreensão para quem acompanha a série completa. As pontes entre os livros são construídas através da reaparecimento de personagens e eventos sob uma nova luz, permitindo que o leitor veterano reconheça os elos de causalidade que unem o passado culposo ao presente reparador.

O Chamado da Luz

A Arquitetura da Redenção

“O Chamado da Luz” distingue-se no panorama literário espírita por sua recusa em apresentar a redenção como um evento mágico ou puramente extático. Pelo contrário, a obra insiste na conversão moral como um processo laborioso, feito de recaídas, vergonha, orgulho ferido e, sobretudo, trabalho incessante.

O Protagonismo e A Voz Confessional de Jefferson

A escolha da narração em primeira pessoa confere à obra uma urgência e uma temperatura emocional singulares. Jefferson não é um observador onisciente e distante; ele é um narrador falível, em processo de aprendizado. Em “O Chamado da Luz” , sua dicção amadurece visivelmente. Há menos autodefesa e racionalização do mal, substituídas por uma exposição corajosa de suas vulnerabilidades.

O texto destaca momentos de profunda introspecção, como quando o protagonista admite a dificuldade de manter o equilíbrio vibratório ao assistir à dor de pessoas queridas ou ao reencontrar seus antigos comparsas de iniquidade.2 O resultado é uma prosa confessional que alterna registros entre o relato de ação espiritual (resgates, embates energéticos) e trechos de doutrina vivida na prática, sem perder a clareza e a fluidez.

A Desconstrução do Grande Chefe

Um dos pontos mais altos da narrativa, amplamente citado na análise crítica da obra, é a relação de Jefferson com Eliezer, o antigo Grande Chefe das hostes trevosas. A inversão de papéis é dramática: Eliezer, outrora temido, encontra-se agora reduzido pelo sofrimento em uma cela nas zonas abissais.

A narrativa subverte a expectativa de revanche. Em vez de julgar ou punir, Jefferson é convocado a exercer o cuidado. A cena em que Glauco e Baltazar (outros personagens em processo de reabilitação) pedem que Jefferson imponha as mãos sobre Eliezer para aliviar suas feridas é descrita como um teste radical para a superação do narrador. O perdão deixa de ser um conceito abstrato e teológico para se tornar uma ação física e energética — o perdão vira ação.

A escrita de Adriana Machado registra com precisão cirúrgica o abatimento e a vergonha de Eliezer, abrindo espaço para que o leitor testemunhe o primeiro movimento interior de arrependimento do antagonista, sem cair em sentimentalismos fáceis.

A Pedagogia do Amor de Mãe

Outro acerto estrutural significativo da obra é a incorporação da figura materna de Eliezer. Sua presença ativa e amorosa nos bastidores do enredo atua como um contraponto à dureza do ambiente umbralino. A atuação desta mãe desarma o maniqueísmo fácil, conferindo densidade ética à série.

A introdução desta personagem reforça a tese de que a cura espiritual deixa de ser vista como mágica para se tornar relação — relação de mãe e filho, de amigos, de ex-algozes e ex-subordinados. A redenção não ocorre no vácuo; ela é um fenômeno social e afetivo. Ninguém se salva sozinho; a salvação é uma construção coletiva baseada em laços de afeto indestrutíveis, mesmo diante das maiores quedas morais.

Os Personagens e a Diversidade da Experiência

A obra é rica em personagens que ilustram diferentes facetas do processo evolutivo:

  • Glauco e Baltazar | Antigos chefes trevosos que funcionam como contrapontos vivos a Jefferson. Eles são evidências de que a conversão é possível para qualquer um e que tem efeitos concretos na conduta diária.
  • Firmino | Sua trajetória exemplifica a distância entre o discurso e a prática. Preso, ele repete aos demais a esperança do resgate, mas demora a aplicá-la a si mesmo, até que o silêncio e a reflexão amadureçam sua decisão. Este arco serve para o texto comentar, através dos mentores, a frequente desconexão entre saber intelectualmente e praticar moralmente, um dos insights mais lúcidos da obra.
A Médium e Escritora Adriana-Machado
A Médium e Escritora Adriana-Machado

Adriana Machado e a Mediunidade

Adriana Machado não é apenas a psicógrafa de “O Chamado da Luz”; ela é uma figura central na renovação da literatura espírita brasileira. Sua trajetória biográfica e sua produção literária anterior fornecem o contexto necessário para compreender a profundidade de sua nova obra.

Residente em Vitória, Espírito Santo, Adriana Machado é advogada e escritora mediúnica, casada há 27 anos e mãe de dois filhos. Sua conexão com a doutrina espírita é descrita como algo visceral (espírita desde sempre), embora tenha tido formação católica na infância.

O despertar de sua mediunidade ostensiva ocorreu aos 17 anos, levando-a a um processo natural de abraçar a Doutrina Espírita como fonte de consolação e esclarecimento. Em 1998, atendendo a um convite da espiritualidade, participou da fundação da Fraternidade Cristã Bezerra de Menezes (FCBM), instituição que se tornaria seu segundo lar e base para seus trabalhos de assistência e desobsessão.

Foi também em 1998 que Adriana recebeu a visita do autor espiritual Ezequiel, que lhe propôs a parceria para a psicografia de livros, visando a divulgação dos ensinos de Allan Kardec e do Evangelho. Este encontro marcou o início de uma prolífica carreira literária que culminaria na parceria com o espírito Jefferson.

Obras Anteriores da Autora e Temáticas Recorrentes

A bibliografia de Adriana Machado é marcada pela exploração de temas complexos e dolorosos da existência humana, sempre sob a ótica da esperança e da responsabilidade pessoal. Além da duologia de Jefferson, destacam-se:

  • Onde tudo começou | O primeiro livro, publicado pela própria FCBM, ditado por Ezequiel.
  • Perdão, a chave para a Liberdade | Uma obra que aprofunda o conceito de perdão, tema central que reaparece com força em “O Chamado da Luz”.
  • Nem tudo é carma, mas tudo é escolha | Ditado por Ezequiel, este romance explora a responsabilidade individual (livre-arbítrio) em contraposição ao determinismo cármico, enfatizando que as escolhas presentes moldam o futuro mais do que os erros passados.

A Voz da Autora

Adriana Machado mantém uma presença ativa online, utilizando seu blog para expandir as reflexões propostas em seus livros. A análise de suas postagens recentes revela uma consistência temática impressionante com “O Chamado da Luz”:

  • Sobre a Depressão | Em postagens de 2024, a autora aborda a depressão não como frescura, mas como uma doença que exige tratamento médico e espiritual. Ela compara a alma deprimida a um barco sem leme, ecoando as descrições dos espíritos sofredores nas zonas umbralinas de seus livros.
  • Sobre o Natal e Jesus | Suas reflexões natalinas desmistificam a figura de um Deus punitivo, apresentando Jesus como um revolucionário que ensinou que a adoração a Deus é interna. Esta visão de um Deus que não pune e não se ofende é a base teológica para a recuperação de personagens como Eliezer em “O Chamado da Luz”.
  • Sobre o Autoamor | A autora discute o perigo de um autoamor que na verdade é dependência da aprovação alheia, propondo um amor próprio sem vínculos ou armadilhas, essencial para a saúde mental e espiritual.

Essas reflexões paratextuais confirmam que a literatura de Adriana Machado é uma extensão de sua filosofia de vida, focada na desconstrução de crenças limitantes e na promoção de uma espiritualidade autêntica e libertadora.

Editora Dufaux

A Editora Dufaux

A publicação de “O Chamado da Luz” não é um evento isolado, mas parte de uma estratégia editorial robusta conduzida pela Editora Dufaux, uma das casas mais respeitadas no segmento espírita brasileiro.

Perfil e Missão da Editora Dufaux

Fundada com a missão de “Educar corações e transformar vidas”, a Editora Dufaux tem se especializado em livros de autoconhecimento e espiritualidade, buscando obras que ofereçam ferramentas práticas para a reforma íntima. A editora é conhecida pela Série Harmonia Interior e pela Série Romance Mediúnico, na qual “O Chamado da Luz” se insere.

A direção editorial conta com minha expertise, como muitos que acompanham o meu trabalho sou um pioneiro no mercado de livros digitais no Brasil e estudioso do mercado editorial. Atuo como editor na Dufaux, e nele trago uma visão moderna e estratégica para a casa, garantindo que as obras tenham não apenas qualidade doutrinária, mas também excelência técnica e apelo comercial. Minha biografia inclui a fundação da eBookCult e a autoria de livros sobre a revolução dos eBooks, o que explica a forte presença digital e a disponibilidade de formatos eletrônicos para os lançamentos da editora.

A Ficha Técnica do Livro e sua Estratégia de Lançamento

“O Chamado da Luz” chega ao mercado com uma apresentação física cuidada e uma estratégia de vendas agressiva. A tabela abaixo detalha as especificações técnicas do produto, essenciais para livreiros e colecionadores:

EspecificaçãoDetalhe Técnico
Título CompletoO Chamado da Luz — O que leva o espírito à redenção
Autor / EspíritoAdriana Machado / Jefferson
EditoraDufaux
ISBN978-65-87210-83-4
Páginas468 páginas
Formato16 x 23 cm
Peso500 g
Ano de Lançamento2025
SérieRomance Mediúnico
Preço de Capa (Ref.)R$ 75,00 (com promoções de até 30% OFF na pré-venda)

A campanha de pré-venda do livro destacou descontos significativos (30% Off), posicionando o livro como uma novidade e destaque na loja oficial da editora. A estratégia incluiu também a disponibilização de trechos para degustação gratuita, permitindo que os leitores experimentem a narrativa antes da compra, uma tática eficaz para reduzir a barreira de entrada em obras densas.

O Mercado de Livros Espíritas em 2026

O lançamento de “O Chamado da Luz” ocorre em um momento de estabilidade e renovação para o mercado editorial espírita. Análises de tendências para 2025 indicam que, embora o volume total de vendas no varejo de livros apresente desafios, nichos específicos como o de espiritualidade e autoconhecimento mantêm um público fiel e ávido por novidades.

O ranking de livros mais vendidos e as tendências apontam para uma preferência por obras que misturam narrativa emocionante com ensinamentos práticos (como Violetas na Janela e obras de Zibia Gasparetto, que continuam sendo referências de cauda longa). “O Chamado da Luz” encaixa-se perfeitamente neste perfil, oferecendo a jornada do herói espiritual (Jefferson) combinada com lições aplicáveis ao dia a dia sobre culpa e perdão. A obra concorre e dialoga com best-sellers de autoajuda e espiritualidade, ocupando as prateleiras ao lado de autores consagrados e novas vozes que buscam explicar a transição planetária.

A Redenção no Século XXI

A análise de “O Chamado da Luz”, nesse nosso estudo de caso, revela uma teologia subjacente que merece destaque. A obra reflete uma maturação do pensamento espírita no Brasil, afastando-se de conceitos de culpa judaico-cristã em direção a uma ética de responsabilidade cósmica.

Diferente de correntes religiosas que pregam a salvação pela graça ou pela fé exclusiva, a narrativa de Jefferson enfatiza a salvação pelo trabalho. A redenção não é um raio que cai do céu; é uma construção tijolo a tijolo. Jefferson redime-se porque trabalha no resgate de outros. A obra postula que a única maneira de curar o mal causado é gerar uma quantidade equivalente ou superior de bem. “Renovar-se diante da dor é maravilhoso, mas utilizar-se dos aprendizados para o auxílio ao próximo é divino” é a síntese doutrinária que o próprio texto oferece.

A inclusão de personagens de diferentes origens e a humanização das trevas sugerem uma visão universalista. O livro propõe que ninguém fica para trás quando o amor se torna método. O que ecoa no conceito de Apocatástase (a restauração de todas as coisas) adaptado à reencarnação: todos os espíritos, sem exceção, chegarão à perfeição, não importa quão fundo tenham caído nas zonas abissais. A figura da mãe de Eliezer é o arquétipo desse amor que espera, confia e age, independentemente do estado momentâneo do ser amado.

O livro “O Chamado da Luz” faz uma contribuição singular à psicologia espírita ao detalhar o psiquismo de quem deixa de ser obsessor. Jefferson lida com a síndrome de abstinência do poder e com a vergonha de encarar suas vítimas.

O texto mostra que a transição para a luz não apaga a memória da sombra; ela a integra. O trabalhador da luz é eficiente nas zonas abissais justamente porque conhece o terreno e a linguagem da dor, transformando sua experiência pregressa em ferramenta empática de conexão.

Um Convite à Reflexão e à Ação

“O Chamado da Luz — O que leva o espírito à redenção” consolida-se como uma obra essencial para o acervo espírita contemporâneo. Ao aliar a qualidade literária da escritora Adriana Machado à profundidade vivencial do espírito Jefferson, o livro transcende a categoria de simples romance para se tornar um estudo de caso sobre a resiliência do espírito humano.

A obra desafia o leitor a abandonar a passividade diante de suas próprias imperfeições. Se Jefferson, com todo o seu histórico de trevas, pôde se tornar um farol de esperança, o convite estende-se a cada leitor para que inicie seu próprio processo de reciclagem moral. A editora Dufaux, com sua curadoria atenta e produção esmerada, entrega ao público não apenas um livro, mas um mapa de navegação para tempos de transição.

Em última análise, a duologia de Jefferson (Sombras e Luz) funciona como um espelho da própria humanidade neste momento histórico: consciente de suas sombras passadas, mas irremediavelmente chamada a construir um futuro de luz, trabalho e fraternidade. A leitura desta obra é, portanto, um passo firme em direção a essa construção coletiva.

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