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Os livros digitais e a literatura espírita

Relação do Espiritismo com os livros

É evidente a relação íntima do Espiritismo com os livros. Uma relação que vem desde quando Allan Kardec (1804-1869) publicou, na década de 1860, O livro dos espíritos. Naquele momento, começava um movimento intelectual, literário e espiritualista que cresceria nas décadas seguintes e que se expandiria para outros países como os Estados Unidos e o Brasil.

A relação do Espiritismo com os livros é tão real que há um episódio, chamado de “Auto de Fé de Barcelona”, realizada no dia 9 de outubro de 1861, onde centenas de exemplares de livros espíritas foram queimados em praça pública.

A história nos mostra que quando livros são queimados, é que o conteúdo desses livros traz transformações sociais importantes. O Espiritismo se apoia em três bases: a Ciência, a Filosofia e a Religião. Portanto, quem se aproxima da Doutrina Espírita para buscar a compreensão dos mecanismos espirituais da vida, inevitavelmente recorre aos livros.

Essa é uma das razões de pessoas espíritas lerem tanto. Não há pesquisas oficiais, mas dados coletados apontam que, por ano, o leitor espírita lê três ou mais livros que a média nacional.

Nesse cenário, encontramos milhares de leitores que recorrem aos livros para estudar o Espiritismo e sua relação com outras doutrinas espiritualistas; como por exemplo, o Cristianismo, também fortemente baseado em uma vasta literatura.

Em comparação com os livros de estudos doutrinários, os romances espíritas são lidos de 6 a 7 vezes mais. Nesse contexto, os romances espíritas são muito populares, acessíveis e, muitas vezes, se configuram como porta de entrada para o mundo da literatura para não leitores.

Escritores espíritas no Brasil

No Brasil, existem centenas de escritores que voltam suas atenções tanto para o ensino da doutrina quanto para a exploração comercial desse mercado editorial. Podemos citar dois expoentes da Literatura Espírita: Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido como Chico Xavier; e Zíbia Gasparetto (1926-2018).

Chico Xavier, por exemplo, escreveu mais de 450 livros, dos quais muitos se tornaram best-sellers. Nosso lar, obra psicografada por ele na década de 1940, já passou da 61ª edição e já vendeu mais de 2 milhões de exemplares.

Embora já tenha vendido mais de 60 milhões de exemplares (no mínimo 25 milhões somente em língua portuguesa, segundo fontes da Federação Espírita Brasileira), as obras de Chico Xavier, geralmente, não aparecem nas listas de livros mais vendidos, porque são distribuídas e circulam longe das livrarias tradicionais que computam as vendas que formam as listas.

As obras de Chico Xavier (incluindo um acervo de diversos gêneros como poemas e poesias, contos e crônicas, romance) circulam, de forma mais restrita, por meio de grupos, círculos e centros espíritas.

Não há nenhum senso oficial no meio, mas é segro afirmar que Chico Xavier é um dos maiores escritores brasileiros, tanto em número de obras escritas quanto em número de exemplares vendidos e lidos. Além disso, assim como Machado de Assis, Jorge Amado e Paulo Coelho, as obras de Chico já foram traduzidas para mais de 30 idiomas.

Zíbia Gasparetto foi uma escritora espiritualista brasileira que se notabilizou, assim como Chico, como médium. Ela ajudou a formar milhares de leitores, em especial mulheres, que começaram a ter mais intimidade com a leitura por meio das histórias que Zíbia contava em seus livros psicografados. Geralmente, histórias de vidas passadas e suas relações com as questões amorosas e familiares. Zibia Gasparetto publicou mais de 40 livros e vendeu mais 16 milhões de exemplares.

Temos outros escritores importantes na Literatura Espírita que ajudaram a pavimentar o cenário literário e a formar leitores em todo o Brasil, entre eles, Divaldo Franco, Edgard Armond, José Carlos de Luca, Robson Pinheiro, Francisco do Espírito Santo, Wanderley de Oliveira, entre tantos outros.

Afinal o que os eBooks representam para o movimento espírita?

Os livros digitais se originaram nos Estados Unidos, outro país que recebeu bem a filosofia espírita proposta por Kardec. Diversas empresas, como IBM, HP, Xerox, Microsoft, Amazon, Sony, entre outras, contribuíram para tornar realidade o mercado editorial de obras digitais.

Mas levou aproximadamente 60 anos até que os livros digitais saíssem dos laboratórios de empresas e universidades, através de inúmeros protótipos criados, e chegassem ao atual mercado editorial digital.

Somente por volta de 2010, é que os livros digitais realmente ganharam repercussão mundial, a ponto de se estabelecerem como mercado; e, nos últimos 10 anos, os eBooks vêm se consolidando como alternativa de produção, distribuição, comercialização e leitura de livros.

O novo cenário digital

No mercado editorial brasileiro, obras de religião e autoajuda são consideradas um nicho importante e representam uma fatia expressiva. Se juntarmos esse nicho de mercado com as facilidades de publicação, distribuição e comercialização que a tecnologia permitiu, teremos um mercado forte e promissor.

Uma vez que a maioria dos leitores está com as telas em mãos (notebooks, tabletes e, principalmente, celulares), fica ainda mais acessível o uso dos aplicativos para a leitura dos livros.

Os aplicativos formam um cenário à parte. Consolidaram-se de forma proeminente no mercado de livros depois que os e-readers (leitores digitais portáveis de livros) foram superados pelo mercado de smartphones. Para se ter uma ideia, somente um único aplicativo para a leitura de livros digitais, disponível por meio da plataforma Play Store (da Google), teve mais de 100 milhões de downloads. E há dezenas deles disponíveis de forma gratuita que, em sua maioria, permitem a leitura de obras digitais no formato ePub (formato que foi estabelecido como padrão para esse tipo de produto digital).

Por uma série de fatores, os livros digitais geralmente mantêm um preço de capa mais barato e acessível que as edições impressas. Embora estejamos em uma fase onde grandes e médias editoras importantes ainda não migraram todo o seu conteúdo do papel para as telas, há um vasto conteúdo que deverá passar por um crivo de qualidade por esse jovem mercado.

Mas se unirmos a facilidade de acesso aos livros, que a tecnologia permite, com o acervo literário espiritualista, o movimento espírita conseguirá levar mais livros ao público; com facilidade nunca possível antes em sua história.

Até pouco tempo, havia um medo por parte dos autores e editoras com relação à pirataria dos livros; mas a própria pirataria dos livros espíritas, nas duas últimas décadas, ajudou a pavimentar seu próprio mercado de livros digitais.

Sabemos, por experiência própria, que o uso da tecnologia de livros digitais pelo movimento espírita, pode trazer ganhos incalculáveis tanto no acesso aos livros quanto na formação de novos leitores.

Os eBooks da Editora Dufaux

Na Editora Dufaux, nós iniciamos a migração de todo o catálogo em meados de 2014. Hoje, 100% do nosso catálogo se encontra à venda; tanto nas edições impressas, quanto nas edições digitais. As vendas de livros digitais na Dufaux, em 2021, já giravam em torno de 39% em comparação com as vendas dos livros impressos. E, a partir de 2016, todos os novos livros têm sido lançados simultaneamente em ambas as edições: impressa e digital.

Sentimos que há uma demanda reprimida de dezenas, se não centenas, de autores que diariamente nos procuram para terem os seus livros publicados. A quantidade de textos originais que chega ao nosso escritório semanalmente é considerável, e já implantamos um programa para dar suporte a esses autores, em um novo modelo de publicações da Dufaux.

Percebemos que boa parte dos originais vem de outros seguimentos que tratam do tema espiritualidade, como a Umbanda, por exemplo. Os líderes religiosos da Umbanda estão produzindo vasto conteúdo que ainda encontra dificuldade de ser acessado por seus leitores.

Felizmente, temos buscado a ajuda na tecnologia para estabelecer um caminho por meio do qual possamos publicar mais livros, com a mesma qualidade com que já produzimos há duas décadas. A tecnologia de livros digitais tem ajudado muito a resolver questões como quantidade de textos originais recebidos versus qualidade de obras selecionadas pelo nosso Conselho Editorial.

A Literatura Digital Espírita

O movimento espírita precisa compreender as engrenagens de publicação, distribuição e comercialização dos livros digitais e fazer uso das tecnologias digitais, inclusive a tecnologia de impressão sob demanda, para levar o conhecimento espiritualista aos leitores.

Em um cenário pós-pandemia, ainda carente de consumo de livros, as redes sociais têm nos ajudado na divulgação do primoroso conteúdo de nosso catálogo; a tecnologia de vendas por meio de um e-commerce tem nos ajudado a escoar de forma direta o nosso acervo; e a impressão digital, integrada com as lojas online que vendem eBooks, tem nos ajudado a levar mais livros a mais leitores.

Se unirmos a Literatura Espírita tradicional à tecnologia de livros digitais, podemos obter um alcance ainda maior do que temos por meio das livrarias e bibliotecas espíritas físicas. Por intermédio do livro digital, podemos formar novos leitores, fortalecer ainda mais a leitura naqueles que já conhecem nossa literatura e criar um ambiente sustentável para novos leitores, autores e editoras.

Os livros digitais parecem ter sido criados sob medida para a Literatura Espírita. Se Allan Kardec pudesse ver o que aconteceria com o mercado de livros espíritas depois de 160 anos do “Auto de Fé de Barcelona”, não teria ficado tão preocupado com aquela queima dos livros.

Auto de Fé de Barcelona... Leia mais em https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/201cqueimam-se-os-livros-mas-nao-se-queimam-os-espiritos201d/. O conteúdo de CartaCapital está protegido pela legislação brasileira sobre direito autoral. Essa defesa é necessária para manter o jornalismo corajoso e transparente de CartaCapital vivo e acessível a todos
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