Aprendi muito lendo o livro Patas sagradas!
Sempre tive gatos e, quando uma gatinha em especial, a Gabiola, morreu, eu senti uma dor tão profunda que não saberia nem explicar. Anos depois, lendo todos os depoimentos de tutores que esta obra traz, me vi ali entre eles e me senti, como se diz hoje em dia, representado.
Com as referências doutrinárias espíritas, entre outras, que Maria José trouxe na primeira parte desta obra, aprendi algo que não sabia: que, entre Deus e nós, os seres humanos, em longo processo de evolução espiritual, existe o que aqui nesta obra são chamados ou identificados como cocriadores.
Por meio da Comunicação Interespécies, constante da segunda parte desta obra, aprendi que é possível receber, por parte da espiritualidade maior, notícias, recados e até conversas de nossos queridos e amados pets que faleceram. Se soubesse de tudo isso que aprendi lendo esta obra, teria me sentido mais confortado quando minha gatinha Gabiola faleceu. Cada palavra que Ana traz para os tutores que perderam seus pets é um alento para a alma.
Sou privilegiado por ser uma das primeiras pessoas a ler Patas sagradas. Pois, aprendi também que, no mundo espiritual, a linguagem essencial é a dos sentimentos, um intercâmbio afetivo-telepático universal.
Mas sempre tive dúvidas: como um animal desencarnado poderia se comunicar se ele não possuía palavras como as nossas? Por meio da leitura desta obra, entendi que o espírito intérprete captura telepaticamente emoções, imagens e impressões que emanam do animalzinho.
No plano sutil, pensamentos formam quadros e vibrações visíveis à percepção espiritual. O intérprete sintoniza sua mente na do animal, sentindo o que ele sente, por exemplo, a saudade, a alegria ou alguma cena ligada ao seu tutor. Então, traduz essas percepções para uma linguagem acessível.
Todo esse processo ocorre de modo intuitivo e vibratório, sem necessidade de palavras audíveis. Como ilustra a Comunicação Interespécies da obra, a linguagem do pensamento é universal. Podemos conversar com outro ser, e ele nos responderá de forma compreensível, bastando aprendermos a distinguir as ideias do outro ser das nossas próprias. Ou seja, mentes em sintonia se comunicam diretamente pelo pensamento.
Mas você deve estar pensando: os animais são tão expressivos em vida, por que precisariam de um intermediário no mundo espiritual? Bem, conforme veremos na primeira parte desta obra, Allan Kardec questionou se um espírito de animal poderia se comunicar diretamente.
A resposta do Espírito da Verdade foi clara: “evoque uma pedra e ela te responderá”, indicando que, se alguém obteve respostas de uma pedra, de uma planta ou de um animal, seria um espírito quem falava por eles.
O próprio Kardec narra o curioso caso de um passarinho desencarnado que ‘disse’ ao médium, em francês perfeito, que um gato derrubara seu ninho. Mais tarde, depois dessa informação, verificou-se o fato de o ninho ter sido derrubado. Os espíritos alertaram: “não foi o pássaro que respondeu, e sim um espírito que conhecia a história.”
Esse exemplo clássico mostra que um animal no plano espiritual sempre precisa de uma inteligência tradutora para transmitir uma mensagem do além. Sozinho, ele não possui sinais quaisquer em seu cérebro espiritual que permitam comunicar ideias completas como nós. E é daí que nasce o trabalho maravilhoso da Comunicação Interespécies.
Aliás, essa ponte entre os animais e o mundo espiritual, até para os cristãos, não é uma ideia nova. No próprio Antigo Testamento, há um episódio marcante em que uma jumenta fala com seu dono, o profeta Balaão, advertindo-o sobre a presença de um anjo no caminho.
Então o Senhor abriu a boca da jumenta, e ela disse a Balaão:
“Que te fiz eu, que me espancaste três vezes?”
E Balaão respondeu à jumenta:
“Porque zombaste de mim! Se eu tivesse uma espada na mão, agora te mataria.”
E a jumenta disse a Balaão:
“Porventura não sou eu tua jumenta, em que sempre cavalgaste até hoje? Acaso já me acostumei a fazer assim contigo?”
E ele respondeu: “Não.”
Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor parado no caminho, com a espada desembainhada na mão.
A cena bíblica pode parecer inusitada à primeira vista, mas à luz da Doutrina Espírita, compreendemos que não foi o animal quem falou por si só, e sim um espírito superior que, utilizando-se da jumenta, transmitiu uma mensagem com fins educativos. É exatamente isso que aprendemos também em Patas sagradas: os animais, embora puros e amorosos, ainda não possuem os recursos mentais para a articulação direta de ideias humanas, sendo necessário que um espírito amigo, um intérprete, lhes dê voz e sentido em suas comunicações. Assim, até mesmo esse relato bíblico ganha nova luz e profundidade quando observado sob a ótica da continuidade da vida e da mediunidade responsável.

Estudos espiritualistas contemporâneos afirmam que todo trabalho de intercâmbio sério conta com supervisão do plano maior; portanto, a comunicação com animais não seria diferente. Muitas vezes, esses benfeitores aproximam o animal do comunicador para inspirar os conteúdos traduzidos.
Em diversos relatos, o espírito intérprete é um antigo dono desencarnado ou alguém da família espiritual do tutor, a quem o animal tinha afeição. Esse amigo do além, em muitas ocasiões, até aproveita seu vínculo com o bichinho para falar em nome dele, passando adiante suas vibrações de amor.
Fiquei encantado em aprender com as autoras desta obra sobre todo esse processo, e quero, em seguida, pesquisar para aprender ainda mais, pois, pelo que é aqui passado, o mecanismo da comunicação ocorre em cadeia telepática: Animal → Intérprete espiritual → Comunicador encarnado. Nesse processo, que espero ter compreendido bem, o animal emite sentimentos e imagens simples; o espírito tradutor os recolhe por telepatia e os converte em pensamentos mais elaborados; e então, o comunicador interespécie capta intuitivamente esses pensamentos traduzidos e os expressa por escrito.
O comunicador, seja em expansão da consciência, seja até mesmo fazendo o uso das faculdades de intuição, funciona como tradutor final do que o espírito intérprete transmitiu. Importante notar que, embora o animal não formule frases complexas como nós, ele realmente participa, transmitindo suas emoções básicas genuínas, que são a matéria-prima da mensagem. É comum, por exemplo, que o intérprete passe ao comunicador a sensação de tranquilidade e carinho, que o pet deseja comunicar ao seu dono, juntamente com flashes de memória, como brincadeiras, lugares de que gostava, vindos do próprio animal. É tudo muito lindo!
Quanto à qualidade dessa comunicação, ela é, ao mesmo tempo, limitada e preciosa. Limitada porque não se deve esperar do animal conceitos filosóficos ou informações complexas, suas ideias restringem–se às necessidades e experiências simples que conheceu. Mesmo com auxílio espiritual, a ‘voz’ do pet chegará carregada mais de sentimento do que de detalhes analíticos. Trata-se de uma comunicação riquíssima em amor e sinceridade. Os animais transmitem um conteúdo puro, sem disfarces intelectuais: saudade, gratidão, alegria por saber que seus tutores estão bem e ainda pensam neles com amor e saudade.
Aprendemos, em outras obras espiritualistas, que esses seres não guardam mágoas nem ódio após a morte, só conservam e ampliam seu afeto e lealdade. Por isso, quando conseguem se comunicar, naturalmente a mensagem toca o nosso coração de forma profunda, com simplicidade e ternura.
Apesar das limitações naturais de todo esse processo, a Doutrina Espírita mostra a riqueza moral da Comunicação Interespécies: ela testemunha que o amor não é interrompido pela morte. Com o amparo dos mentores, nossos pets conseguem nos enviar notícias e vibrações de carinho, confortando-nos e confirmando que a vida continua para eles também, sempre entrelaçada à nossa, pelos laços do coração.

Nesta obra, temos a feliz reunião de duas autoras que representam duas faces complementares da experiência espiritual da Comunicação Interespécies. De um lado, Maria José da Costa, com mais de cinco décadas de vivência e estudos no Movimento e na Doutrina Espírita, nos oferece uma base simples, mas sólida, clara e fundamentada nos princípios da codificação. Ela percorre com serenidade os caminhos doutrinários que explicam a condição espiritual dos animais, seu processo evolutivo, suas possibilidades de comunicação e sua importância no grande projeto divino da criação.
De outro lado, Ana Souza, comunicadora interespécies, que rapidamente partiu da sensibilidade para a experiência, da escuta interior para o exercício direto da comunicação com os pets desencarnados. Seus relatos são simples, tocantes e cheios de ternura, e justamente por isso, reveladores. Ana não se apresenta como teórica da Doutrina Espírita, mas como alguém que, com o coração aberto e compromisso com a verdade, vivencia os efeitos práticos daquilo que Maria José tão bem explica.
As duas abordagens se complementam com beleza e profundidade.
Porque a prática espiritual, como a Comunicação Interespécies, precisa da base segura e esclarecedora que a Doutrina Espírita e outras fontes espiritualistas oferecem. E o contrário também é verdadeiro: os estudiosos devem compreender que é natural que muitas pessoas iniciem pela prática, muitas vezes antes mesmo de conhecerem os fundamentos codificados por Kardec. Isso não invalida suas experiências, apenas aponta para o necessário diálogo entre sensibilidade e estudo, entre teoria e prática, entre fé e razão.
É por isso que este livro deve ser lido como uma construção integrada, em que o saber teórico doutrinário e a prática Comunicação Interespécies caminham de mãos dadas para abrir novas possibilidades de se compreender um pouco mais a vida no plano espiritual e sua interação com o plano físico, bem como ilustrar, com emoção e coerência, que o amor entre humanos e animais não se rompe com a morte. Um saber que se transforma, se amplia e se expressa de novas maneiras, tanto no plano espiritual quanto no material.
Que esta obra sirva de ponte entre os planos, entre os saberes, entre os corações. E inspire mais e mais pessoas a buscarem, com humildade e afeto, a verdade libertadora do espírito.
Obrigado, Maria. Gratidão, Ana. Após tanto tempo que perdi minha querida e amada gatinha Gabiola, e nunca mais me esqueci dela, entendi finalmente os desígnios de Deus quando coloca em nossas vidas esses anjos de quatro patas.
