fbpx
HomeArtigosÉliphas Lévi

Éliphas Lévi

Éliphas Lévi Zahed, cujo nome real era Alphonse Louis Constant, foi um esoterista, poeta e escritor francês. Ele nasceu em Paris, França, em 8 de fevereiro de 1810, filho de um modesto sapateiro e sua esposa, em um período de grande agitação social e política na França.


Estudos religiosos e de vida precoce

O pai de Lévi era um sapateiro que queria que seu filho tivesse oportunidades na sociedade francesa. Seus pais notaram o talento artístico de Lévi e o enviaram ao seminário de Saint-Nicolas du Chardonnet aos 10 anos de idade. Ele se destacou em estudos linguísticos e sabia ler a Bíblia em seu idioma original. No seminário, ele estudou filosofia e depois teologia em Saint-Sulpice. Ele ascendeu na hierarquia da Igreja e foi ordenado subdiácono. Ele lecionou em uma escola para meninas, escreveu uma peça bíblica e compôs poemas religiosos.

Durante seus anos de formação no seminário, Lévi também desenvolveu um interesse intenso por literatura romântica e filosofia alemã, particularmente os trabalhos de Hegel e Schelling, que mais tarde influenciariam seu pensamento esotérico. Ele era conhecido por sua memória excepcional e capacidade de recitar longos trechos de textos sagrados em latim, grego e hebraico.


Éliphas Lévi Zahed
Éliphas Lévi Zahed

Desilusão com a Igreja e os primeiros escritos

Aos 26 anos, enquanto estudava para o sacerdócio, Lévi confessou ao seu superior que tinha sentimentos românticos por uma jovem que ele estava preparando para a comunhão. Essa confissão levou à sua expulsão do seminário e lhe causou grande sofrimento, abalando sua fé. Sua mãe, ao ouvir a notícia, tirou a própria vida. O incidente foi seguido por rumores de que Lévi havia sido expulso por ter um relacionamento com a jovem, prejudicando ainda mais sua reputação. Ele viajou por toda a França, trabalhando em um circo e mais tarde em Paris como pintor e jornalista. Durante esse período, ele foi cofundador da revista “As Belas Mulheres de Paris” com seu amigo Henri-Alphonse Esquirros.

Este período turbulento de sua vida coincidiu com o surgimento de movimentos socialistas utópicos na França, e Lévi se envolveu ativamente com as ideias de Saint-Simon e Charles Fourier. Ele frequentava círculos socialistas e escrevia artigos defendendo reformas sociais radicais, o que mais tarde influenciaria sua visão sobre a relação entre espiritualidade e justiça social.

Apesar da desilusão, Lévi continuou atraído pelo misticismo e pela vida religiosa. Em 1839, ele foi para o convento de Solesmes, liderado por um abade rebelde. Lá, ele acessou uma biblioteca com textos gnósticos e livros sobre magia. Essas leituras o levaram a questionar doutrinas religiosas tradicionais, como o inferno e o livre-arbítrio, solidificando ainda mais suas visões espirituais em evolução.

Em 1846, Lévi conheceu Flora Tristan, uma importante socialista e feminista, que o apresentou a círculos esotéricos parisienses onde se discutiam temas como magnetismo animal, clarividência e alquimia. Esta conexão expandiu significativamente sua rede de contatos no mundo oculto.
Lévi continuou escrevendo, publicando obras como “A Bíblia da Liberdade” (1841), que o levou a uma pena de prisão de oito meses e uma multa. Ele foi acusado de minar a religião e a sociedade. Ele também escreveu “Assunção da Mulher” e “A Última Encarnação”, explorando temas religiosos de sua perspectiva.


Livro "Dogma e Ritual de Alta Magia"
Livro “Dogma e Ritual de Alta Magia”

Estudos Ocultos e Transformação em Éliphas Lévi

Lévi começou seus estudos ocultos no mosteiro, mas os detalhes de sua iniciação permanecem obscuros. Sabe-se que ele era amigo e colaborador do iniciador do famoso mágico Papus. No entanto, acredita-se que o ocultista Hoene Wronski introduziu Lévi no caminho oculto. Quando Wronski morreu em 1853, ele deixou para Lévi uma coleção de manuscritos.

Foi durante este período que Lévi começou a desenvolver sua própria interpretação do Tarot, conectando-o com a Cabala hebraica e a tradição hermética. Ele foi o primeiro a estabelecer uma correspondência clara entre os 22 Arcanos Maiores do Tarot e as 22 letras do alfabeto hebraico, uma correlação que se tornaria fundamental para o ocultismo ocidental moderno.
Pouco depois, Lévi viajou para Londres, onde se encontrou com ocultistas que, segundo as fontes, estavam mais interessados em espetáculos mágicos do que em autorrealização. Decepcionado, Lévi se concentrou no estudo da Alta Cabala. Durante esse período, ele fez amizade com Edward Bulwer-Lytton, autor do famoso romance esotérico Zanoni. Eles trocavam conhecimentos sobre sociedades ocultas e supostamente realizavam rituais espirituais juntos. Segundo Papus, eles invocaram os espíritos de São João, Jesus e Apolônio de Tiana e receberam insights sobre os mistérios dos Sete Selos do Apocalipse e da magia celestial.

Durante sua estada em Londres, Lévi também realizou uma famosa evocação do espírito de Apolônio de Tiana em uma casa em Highgate, um evento que ele descreveu detalhadamente em suas obras posteriores. Este ritual se tornaria um dos episódios mais comentados de sua carreira mágica.

O casamento de Lévi com Noémie se deteriorou durante esse período, e eles se separaram. Ele retornou a Paris e, em 1855, começou a publicar a Revista Filosófica e Religiosa. Artigos da revista foram posteriormente incorporados ao seu livro A Chave dos Grandes Mistérios. No mesmo ano, ele publicou sua obra mais famosa, Dogma e Ritual de Alta Magia. Em 1859, ele publicou A História da Magia, completando uma trilogia considerada um texto fundamental para ocultistas.


Éliphas Lévi Zahed
Éliphas Lévi Zahed

Trabalho Oculto Contínuo e Encontro Misterioso

Em 1862, Lévi publicou Fábulas e Símbolos, que ele considerou sua obra mais profunda. Ele alegou ter sido inspirado por um poder superior ao escrevê-lo, afirmando que as ideias fluíam sem esforço, como se fossem guiadas pela vontade divina.

Durante este período, Lévi desenvolveu sua teoria do “Astral Light”, um conceito que ele adaptou do magnetismo animal de Mesmer e da tradição hermética. Ele o descreveu como um fluido universal que permeia toda a criação e serve como meio para fenômenos mágicos e espirituais. Este conceito influenciou profundamente o desenvolvimento posterior do ocultismo ocidental.
Entretanto, sua vida pacífica foi interrompida por um visitante misterioso que bateu sete vezes em sua porta. O visitante era um jovem bem vestido que entrou na casa de Lévi como se fosse sua. Ele alegou saber tudo sobre o passado e o futuro de Lévi e descreveu com precisão eventos de sua vida, incluindo suas experiências na Inglaterra. O visitante alegou ser Deus e Satanás e lembrou a Lévi que ele havia negado sua existência anteriormente. Após compartilhar essa informação, o jovem foi embora sem deixar vestígios. As fontes não oferecem maiores explicações para esse encontro.


Anos posteriores, morte e legado

Em 1865, Lévi publicou A Ciência dos Espíritos, o que consolidou ainda mais sua reputação como um importante ocultista. Nos seus últimos anos, ele manteve um círculo íntimo de estudantes dedicados, incluindo Paul Christian e Jean-Baptiste Pitois (também conhecido como Paul Christian), que continuariam seu trabalho. Ele passou muito tempo desenvolvendo e refinando suas teorias sobre a relação entre magia, religião e ciência.

Conforme previsto pelo jovem misterioso, Lévi morreu em 31 de maio de 1875. Ele enfrentou a morte com coragem e resignação, acreditando ter cumprido sua missão. Nos dias anteriores à sua morte, ele trabalhava em um manuscrito não concluído sobre os “Paradoxos da Alta Ciência”, que seria publicado postumamente.

Lévi viveu uma vida simples e deixou poucos bens materiais. Em seu testamento, ele legou seus manuscritos e algumas obras de arte a amigos e doou para instituições de caridade. Após sua morte, seu filho, que tinha uma semelhança impressionante com ele, reapareceu e herdou seus escritos. Os ensinamentos de Lévi continuaram a inspirar ocultistas e esoteristas, incluindo Helena Blavatsky, considerada uma figura fundamental no ocultismo moderno.
Entre seus discípulos diretos e indiretos estavam Stanislas de Guaita, Joséphin Péladan e Papus, que fundaram importantes ordens ocultistas como a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz. Sua influência se estendeu à Golden Dawn, uma das mais importantes sociedades mágicas do século XIX, e através dela, a praticamente todo o ocultismo moderno ocidental.


Conceitos-chave nas obras de Lévi

Ao longo de seus escritos, Lévi explorou a relação entre magia, Cabala e Cristianismo. Ele procurou entender o divino dentro de si e enfatizou a importância de transcender a dualidade e a ilusão. Ele via seus livros como ferramentas para iniciados desbloquearem a sabedoria de vários planos de existência e obterem uma compreensão mais profunda da Cabala. Ele acreditava que a magia não era apenas realizar maravilhas, mas era um caminho para a autorrealização e a conexão com o divino. Ele enfatizou a importância da humildade, da sabedoria e de viver uma vida simples, de acordo com os princípios espirituais.

Uma das contribuições mais significativas de Lévi foi sua reinterpretação da magia como uma ciência espiritual baseada em princípios universais, em vez de uma mera coleção de superstições e rituais. Ele desenvolveu uma teoria elaborada sobre a vontade mágica e sua relação com o “Astral Light”, conceitos que influenciaram profundamente o desenvolvimento do ocultismo moderno.
Lévi também foi pioneiro na interpretação esotérica do Tarot, estabelecendo correspondências entre as cartas e diversos sistemas místicos, incluindo a Cabala, a astrologia e a alquimia. Seu famoso desenho do Baphomet, publicado em “Dogma e Ritual da Alta Magia”, tornou-se uma das imagens mais icônicas do ocultismo.

Os escritos de Lévi foram altamente influentes no renascimento do ocultismo no século XIX. Ele é lembrado por sua mistura única de tradições esotéricas e sua tentativa de reconciliar a magia com o cristianismo. Suas obras continuam sendo estudadas e debatidas por ocultistas e acadêmicos hoje. Sua síntese de diferentes tradições esotéricas e sua apresentação sistemática da magia como uma ciência espiritual estabeleceram as bases para muito do pensamento ocultista moderno.


últimos artigos

explore mais

Gostaria de deixar um comentário?

Please enter your comment!
Please enter your name here