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O Livro na Era da Inteligência Artificial

O livro sempre acompanhou os grandes ciclos de transformação da humanidade. Sobreviveu à oralidade, reinventou-se com a prensa de Gutenberg, ampliou-se com os bits digitais e agora, no limiar da terceira década do século XXI, inicia uma nova fase: a era da inteligência artificial.

Este novo cenário não substitui a criatividade humana — ele a amplia. A escrita, a edição, a diagramação, o marketing e a distribuição do livro foram profundamente redesenhados pelas ferramentas digitais e, mais recentemente, pela integração da IA em cada etapa do processo editorial.

Hoje, um autor pode conceber uma ideia num aplicativo de celular, gerar esboços de capítulos com ajuda de uma IA generativa, revisar seu texto com algoritmos linguísticos, projetar capas com assistentes visuais e distribuir sua obra globalmente sem sair de casa. Editoras independentes e grandes casas editoriais também passam a contar com automações que otimizam decisões, ampliam o alcance das publicações e antecipam tendências de leitura.

Este texto está dividido em duas partes complementares. A Parte 1 apresenta de forma clara e acessível a estrutura da cadeia produtiva do livro na era digital: do manuscrito à venda. Já a Parte 2 mergulha nas inovações mais recentes de 2025, revelando como a inteligência artificial não apenas acompanha, mas transforma radicalmente esse ecossistema criativo, multiplicando as possibilidades para autores, editoras e leitores.

Ao longo das próximas páginas, você encontrará não apenas ferramentas, mas caminhos. Não apenas tendências, mas oportunidades. Este é um convite para repensar o que significa criar, editar e publicar livros num tempo em que a tecnologia se torna cada vez mais colaborativa e acessível.

Se o passado do livro é digital — como já disse — o presente é híbrido. E o futuro, com a inteligência artificial, promete ser extraordinariamente humano.

A Cadeia Produtiva do Livro na Era Digital
A Cadeia Produtiva do Livro na Era Digital

Parte 1 | A Cadeia Produtiva do Livro na Era Digital: do Manuscrito à Venda

Vivemos uma era em que o livro deixou de ser apenas papel e tinta. O processo de criação e publicação tornou-se híbrido, com textos migrando entre formatos — do impresso ao e-book e ao áudio — conforme destaquei lá atrás ao afirmar que “o passado do livro é digital. O futuro do livro é híbrido”. No Brasil, esse cenário já se materializa em números: de 2021 para 2022, livros digitais (e-books e audiolivros) cresceram 15%, e pesquisas apontam que 95% dos brasileiros creem poder consumir mais livros ao escutarem audiolivros. Esses dados indicam que a cadeia produtiva do livro está mais dinâmica e acessível que nunca. A seguir, exploro cada etapa desse processo, desde a inspiração do autor até os canais de venda, destacando ferramentas digitais e exemplos práticos para autores iniciantes e editoras independentes.

O papel do autor: pesquisa e escrita criativa


Hoje o autor conta com um arsenal digital para pesquisar e criar seu manuscrito. Ferramentas como Google Scholar, Zotero ou Evernote facilitam reunir referências e notas; processadores de texto colaborativos (Google Docs, Microsoft Word) e programas como Scrivener ajudam no planejamento e redação da obra. A escrita criativa também pode ser estimulada por comunidades online e aplicativos (como Wattpad ou fóruns literários) onde feedback é compartilhado. Mesmo antes da publicação, muitos autores iniciantes já produzem conteúdo em blogs ou redes sociais para atrair leitores e consolidar sua “marca” pessoal.

Com a democratização da autopublicação, o autor moderno vai além da escrita: ele se envolve também com marketing e promoção do seu trabalho. Como observa um guia para escritores independentes, “com a explosão da autopublicação…, o papel do autor agora se estende além da escrita, envolvendo-se também no marketing e na promoção do seu trabalho”. Em resumo, o autor contemporâneo pesquisa online, escreve em qualquer lugar (laptop, tablet ou até smartphone), e constrói um público fiel ao compartilhar sua jornada desde cedo.

Editora e autopublicação: revisão, preparação e produção editorial

Nos modelos tradicionais, depois que o autor entrega o manuscrito, a editora assume etapas de avaliação, revisão e produção. Com softwares de editoração (como Adobe InDesign) e ferramentas de revisão (Grammarly, LanguageTool), o texto ganha padronização e correção profissional. A equipe editorial também cuida da criação da capa e do design interno. Já na autopublicação, o próprio autor assume essas funções (ou contrata serviços avulsos).

Plataformas como Amazon KDP, Wattpad e Kobo Writing Life “democratizaram o acesso à publicação”, permitindo que qualquer escritor ofereça sua obra em formato digital (ou impresso sob demanda) para leitores do mundo todo. Nesse modelo, o autor independente tem autonomia total: ele decide o conteúdo, o design da capa, o preço de venda e até as estratégias de divulgação, acompanhando em tempo real os relatórios de vendas. Embora exija aprendizado em diferentes frentes, essa liberdade criativa fortalece o contato direto com o público e pode gerar oportunidades de contrato mesmo com editoras tradicionais.

Gráfica sob demanda e plataformas de publicação digital

A impressão sob demanda (POD) revolucionou a distribuição física dos livros. Em vez de investir em grandes tiragens, o autor/publicador envia o arquivo à gráfica ou plataforma (como KDP Print ou Uiclap) e cópias são impressas apenas quando vendidas. Essa modalidade tem “risco praticamente zero” e reduz em até 95% o investimento inicial. Como explica um serviço de publicação digital, na POD “não precisa encomendar grandes tiragens… seus livros serão impressos apenas quando já tiverem sido comprados”, e o custo da impressão é abatido no preço de cada exemplar.

A tecnologia de impressão digital miniaturizada permitiu que até “o consumidor… praticamente clica no ícone IMPRIMIR e decide onde e como ler seu próprio conteúdo”. Além do impresso sob demanda, há diversas plataformas digitais dedicadas: serviços de conversão para e-book (formato ePub ou MOBI) facilitam o cadastro em lojas online, e editoras on-line ou agregadores (como Smashwords e Draft2Digital) ajudam a converter e distribuir obras eletrônicas mundialmente. Assim, a preparação editorial passa a incorporar versões digitais e estratégias de impressão flexível.

O papel dos metadados no cadastro e na publicação

Em seguida ao conteúdo, os metadados são fundamentais para o registro e a descoberta do livro. Metadados são informações como título, subtítulo, sinopse, autor(es), gênero, ISBN, palavras-chave e categoria temática. Segundo especialistas, “os metadados passam a desempenhar um papel crucial como instrumento de apresentação do livro ao consumidor”, funcionando como um mecanismo para destacar seus atrativos e influenciar a decisão de compra. Em outras palavras, bons metadados fazem seu livro aparecer nas pesquisas certas: sem eles, um título pode ficar perdido em meio a milhares de ofertas. Ferramentas de publicação online (por exemplo, o KDP da Amazon, Kobo, Google Play Livros) exigem o preenchimento desses dados no cadastro.

Seguir padrões como o ONIX (sistema internacional de metadados bibliográficos) e incluir elementos adicionais (descrições atrativas, sinopses claras, capas chamativas) faz diferença: pesquisas mostraram que livros com metadados completos e imagens têm desempenho muito superior nas vendas. Portanto, antes de lançar seu livro, dedique tempo para criar títulos envolventes, descrições precisas e escolher gêneros/etiquetas que reflitam bem o conteúdo. Essa etapa técnica garante que seu livro seja encontrado por quem está procurando justamente por ele.

Estratégias de marketing digital e divulgação

Na era digital, divulgar é quase tão importante quanto escrever. Redes sociais são vitrines poderosas: Facebook, Instagram, Twitter (ou TikTok/BookTok) e comunidades literárias online conectam autores e leitores. Postagens regulares sobre o processo de escrita, bastidores do livro, trechos exclusivos e reviews ajudam a engajar o público. Outras estratégias incluem blogues e newsletters para criar relacionamento com fãs, além de SEO (otimização de palavras-chave) para melhorar a visibilidade nos mecanismos de busca e nas lojas virtuais.

Plataformas de e-mail marketing (por exemplo, Mailchimp) permitem construir uma lista de leitores interessados e enviar lançamentos ou promoções diretamente na caixa postal deles. Influenciadores e parceiros também são importantes: enviar cópias antecipadas para booktubers, blogueiros literários e canais de livros ajuda a alcançar novos públicos. Segundo especialistas, a conexão direta entre autor e leitor fortalece comunidades fiéis e abre espaço para marketing literário orgânico, em que leitores indicam o livro espontaneamente. Em resumo, use as ferramentas digitais disponíveis (agende posts, monte campanhas pagas de baixo custo, participe de eventos online) e trate cada leitor como um potencial embaixador da sua obra.

Distribuição: impressão sob demanda, eBooks, audiolivros e plataformas

Além do papel e da divulgação, as obras digitais têm canais de distribuição inéditos. No formato físico, a impressão sob demanda já mencionada permite vender em livrarias online sem estoque físico. No mundo digital, destacam-se plataformas como Amazon KDP (para e-book no Kindle), Kobo Writing Life, Google Play Livros, Apple Books e Smashwords (que distribui para várias lojas simultaneamente). Essas plataformas permitem que o autor cadastre seu e-book de forma simples e venda em países do mundo inteiro.

Para audiolivros, serviços como Audible ACX (da Amazon), Ubook, Storytel e Findaway oferecem meios de narrar e vender livros em áudio – um segmento que cresce rapidamente. De fato, 95% dos brasileiros entrevistados disseram que o formato de audiolivro lhes permitiria consumir mais títulos. Existe até espaço para publicações seriadas online: sites como Wattpad permitem que autores lancem capítulos interativos, construindo público antes mesmo da versão impressa ou digital oficial.

Em resumo, a distribuição contemporânea abrange impressão sob demanda (que elimina o risco do estoque físico), e-books e audiolivros em várias plataformas digitais. Plataformas como Uiclap (brasileira) auxiliam autores a colocar obras em múltiplas livrarias online simultaneamente. Também há apps de leitura gratuitos (Kindle App, Google Play Livros, Kobo App) que aproximam o livro do leitor em qualquer dispositivo móvel. Esse ecossistema integrado garante que o livro chegue tanto às prateleiras virtuais das grandes lojas quanto às telas de tablets e smartphones, ampliando enormemente o alcance da obra.

Canais de venda: marketplaces, eBookstores e apps de leitura

Por fim, a comercialização acontece em diversos pontos de venda digitais. Marketplaces gerais, como Amazon, Mercado Livre e Americanas, vendem tanto cópias impressas (via POD) quanto e-books; eBookstores especializadas, como Kobo Store e Google Play Livros, oferecem leitura imediata em apps; lojas online de redes de livrarias também vendem versões digitais; e aplicativos de leitura (Kindle, Apple Books, Google Play Livros, Wattpad, Kobo) formam um canal direto. Em geral, basta cadastrar o livro na(s) plataforma(s) de seu interesse e definir o modelo de preço. Cada canal possui relatórios e ferramentas de promoção próprias, mas todos convergem para o mesmo objetivo: colocar o livro nas mãos do leitor.

Em cada etapa da cadeia produtiva — da pesquisa inicial ao último clique de compra — a tecnologia digital oferece novas possibilidades. Hoje um autor iniciante pode escrever em casa, revisar com ferramentas online, publicar sem sair do computador e alcançar leitores mundo afora. Com criatividade, planejamento e uso das ferramentas adequadas, qualquer escritor pode transformar suas ideias em um livro real, bem editado e visível para o público. O universo editorial digital, embora competitivo, é terreno fértil para inovação: escritores independentes e pequenas editoras encontram oportunidades sem igual de brilhar e levar boas histórias às mãos do leitor moderno.

Inteligência Artificial na Cadeia Produtiva do Livro
Inteligência Artificial na Cadeia Produtiva do Livro

Parte 2 | Inteligência Artificial na Cadeia Produtiva do Livro: Inovações em 2025

Em 2025 a IA já é parte integrante da publicação de livros. Ferramentas avançadas de IA generativa e de análise de dados estão revolucionando cada etapa — da escrita até a venda. Este artigo explora as tendências mais recentes, destacando exemplos práticos e dicas para autores, editoras e criadores de conteúdo independentes.

Ferramentas de IA generativa para criação de manuscritos

No estágio inicial, IA generativa como o ChatGPT (GPT-4/GPT-4o) e similares assumem papel de “coautor”. Esses modelos podem gerar esboços de capítulos, sugerir diálogos ou resumir pesquisas em segundos. Por exemplo, o ChatGPT 4‑o é capaz de identificar erros gramaticais, sugerir melhorias de estilo e avaliar a consistência narrativa de um texto. Outras soluções como Jasper, Sudowrite ou o Google Gemini também ajudam a expandir ideias e testar cenários criativos.

Em geral, essas IAs atuam como facilitadoras do brainstorming: você descreve a ideia central, e elas devolvem variações de trama, outlines ou textos reescritos, acelerando o desenvolvimento do manuscrito. Ferramentas especializadas (ex.: NovelAI, Inkarnate) permitem até esboçar cenas ou personagens em estilos literários, enquanto plugins de editores de texto integram o ChatGPT para feedback em tempo real.

Revisão estilística e edição estrutural com IA

Com o manuscrito em mãos, plataformas de IA auxiliam na revisão. Além de corrigir ortografia e gramática, essas ferramentas detectam repetições, falta de coesão e inconsistências no enredo. O ChatGPT e similares podem funcionar como “revisores virtuais”, sugerindo sinônimos ou reestruturações de parágrafos. Por exemplo, a versão mais recente do ChatGPT “4‑o” aprende nuances de estilo e fornece um feedback personalizado ao autor. Outras soluções específicas realçam aspectos profissionais: o LanguageTool (open-source) e ferramentas comerciais como Grammarly (que já suporta português) e Clarice.ai analisam erros e desvios de estilo automaticamente.

A Clarice.ai, por exemplo, afirma corrigir ortografia, gramática e estilo em português de forma ampla, usando IA generativa para uma revisão completa. Em suma, editores de texto e plataformas online hoje oferecem módulos de IA para revisar e padronizar texto, reduzindo o custo e o tempo das revisões humanas, mas sem substituir o olhar do profissional editorial.

Geração de capas e elementos gráficos por IA multimodal

Ferramentas de IA multimodal transformaram o design de capas. Modelos como DALL·E, Midjourney e Stable Diffusion criam ilustrações profissionais a partir de descrições textuais. Basta informar o gênero, o tom e elementos visuais desejados, e a IA gera várias opções de capa únicas. Aplicativos dedicados (ex.: Idyllic, Canva com IA ou BookBrush) já oferecem geradores de capas prontos, permitindo refinar a imagem iterativamente. Porém, há cuidados éticos: no Brasil, uma edição de Frankenstein foi desclassificada do Prêmio Jabuti ao revelar que a ilustração foi criada via Midjourney. Esse caso alerta para a necessidade de transparência e de avaliação artística ao usar imagens geradas por IA.

De toda forma, autores independentes podem aproveitar essa tecnologia para obter capas impactantes a baixo custo, bastando ajustar os prompts ou contratar serviços especializados de IA para design. A imagem abaixo ilustra um ambiente futurista de edição apoiado por IA, simbolizando essa convergência criativa.

Metadados Inteligentes, Categorização e SEO Editorial

Além do texto, a IA ajuda a preparar o ‘pacote meta’ do livro. Sistemas automatizados analisam o conteúdo do manuscrito e sugerem títulos, descrições e palavras-chave otimizados para SEO, aumentando a visibilidade em lojas digitais. Por exemplo, a PublishDrive desenvolveu um metadata generator baseado em IA: ao fazer upload do manuscrito, ele recomenda títulos SEO-friendly, resenhas envolventes, categorias BISAC/Thema e palavras-chave alinhadas com padrões de mercado. Também identifica as melhores categorias da Amazon e outras plataformas para posicionar corretamente o livro.

Em bibliotecas e grandes acervos, algoritmos de NLP extraem e enriquecem metadados automaticamente — autor, subtítulo, palavras-chave de assunto, datas de publicação etc. — e até categorizam o livro por assunto ou gênero com base no texto. Essas aplicações reduzem o trabalho manual de catalogação e garantem que o livro apareça nas buscas certas. Em termos de SEO, a IA pode ainda sugerir termos de busca relevantes e reescrever descrições com foco em otimização, tornando o livro mais facilmente encontrado em motores de busca e na busca interna das lojas (Amazon, Google Books etc.).

Marketing literário automatizado e personalizado

A IA também turbinou o marketing. Algoritmos sofisticados analisam o comportamento e histórico dos leitores para criar campanhas segmentadas. Plataformas de recomendação (como a da Amazon ou da Kobo) já utilizam IA para mostrar ao usuário títulos que combinem com seus gostos. Da mesma forma, ferramentas de publicidade baseadas em IA podem gerar anúncios personalizados: elas identificam quais leitores têm mais probabilidade de comprar determinado livro e ajustam automaticamente o conteúdo dos anúncios e o público-alvo.

Por exemplo, ao estudar padrões de leitura e preferências, a IA cria sugestões de compra e anúncios sob medida para cada perfil de leitor. Além disso, bots de IA podem automatizar postagens em redes sociais, newsletters e e-mails de lançamento, adaptando a linguagem conforme o público. Como resultado, autores menores conseguem atingir audiências específicas com precisão antes só possível para grandes editoras. Ferramentas de análise de dados também otimizam campanhas em tempo real (alterando lances em plataformas de ads ou testando diferentes criativos), economizando tempo e dinheiro. Em suma, investir em marketing inteligente de IA significa falar com o leitor certo na hora certa, gerando mais engajamento e vendas.

Produção em Impressão Sob Demanda e Distribuição Global

A cadeia final de produção igualmente se beneficia da automação. Plataformas de impressão sob demanda (POD) como Amazon KDP Print, IngramSpark e Gelato permitem publicar livros em papel sem estoque, imprimindo apenas as cópias vendidas. A Gelato, por exemplo, conecta redes de gráficas locais em dezenas de países para entrega rápida, e destaca que a criação de processos automatizados e baseados em IA facilitará ainda mais essa operação. Cita-se que a combinação de softwares de automação tornou possível “conectar-se à entrega global” do livro, eliminando etapas manuais na cadeia logística.

Na prática, isso significa que um livro publicado no Brasil pode ser impresso em uma gráfica europeia ou asiática por meio de integração de sistemas, reduzindo custos de frete e tempo de entrega. Paralelamente, a distribuição digital (eBooks e audiolivros) é amplamente automatizada: agregadores como PublishDrive, Bookwire ou Smashwords enviam simultaneamente o livro a diversas lojas mundiais. Autores independentes devem explorar esses canais POD e agregadores digitais para ampliar o alcance internacional — hoje, a postagem de um eBook em inglês, português e espanhol pode ocorrer em poucas horas, graças à tecnologia.

Análise preditiva de mercado e comportamento do leitor

A IA permite ainda antever tendências. Editores estão adotando analytics e machine learning para prever quais gêneros estarão em alta e quais temas ressoam com o público. Modelos preditivos analisam grandes volumes de dados (vendas passadas, buscas por palavras-chave, engajamento em redes) para estimar a demanda futura. Por exemplo, ao interpretar dados de consumo, uma IA pode antecipar picos de interesse em determinados assuntos e orientar editoras a publicarem livros relacionados antes da concorrência.

Em canais digitais, isso já é usado para orientar compras de direitos e planejamentos editoriais. Em um nível individual, sistemas de recomendação utilizam IA para ‘aprender’ as preferências do leitor — quanto mais ele usa a plataforma, melhores ficam as sugestões de novos títulos, aproximando-se do que ele certamente compraria. Em suma, aproveite previsões de IA acessíveis (algumas plataformas fornecem relatórios de tendências de mercado) e esteja atento aos dados de sua própria comunidade de leitores: isso ajuda a customizar lançamentos e ajustar sua estratégia de conteúdo antes mesmo do livro chegar às prateleiras.

Audiolivros sintéticos e narrativa interativa

Por fim, a IA abre novos formatos narrativos. No campo dos audiolivros, vozes neurais avançadas (como as da ElevenLabs, Google WaveNet ou a Bookwire/Volyo no Brasil) criam narrações realistas sem locutores humanos. Essa tecnologia, especialmente acessível a editoras pequenas, permite que livros de não-ficção ou obras de catálogo antigo sejam transformados em audiolivros de forma econômica. Segundo profissionais do setor, “vozes neurais com entonação de vozes humanas” têm melhorado muito, entregando resultados comparáveis aos humanos quando o texto é bem preparado. A dica para editoras: use essas vozes sintéticas para testar audiolivros, criando demos rápidos antes de investir em narração cara.

A IA já inspira experiências literárias interativas. Imagine um livro infantil que adapta sua narrativa e personagens aos interesses de cada criança. Combinando IA e plataformas digitais, histórias ramificadas (em que escolhas do leitor influenciam o enredo) se tornam viáveis. Experimentos em jogos e apps narrativos mostram como a IA pode ajustar a história em tempo real, criando aventuras únicas para cada público. Essa é uma área em expansão: autores independentes podem explorar aplicativos de narrativa interativa (baseados em motores de jogo ou chatbots) para engajar leitores de formas inovadoras.

Recomendações para autores independentes e editoras 

  • Experimente as ferramentas | Use assistentes de escrita IA (como ChatGPT, Jasper, Sudowrite) para ideias e organização de conteúdo, mas sempre revise com seu estilo próprio.
  • Integre revisão manual | Ferramentas como LanguageTool, Grammarly e Clarice.ai ajudam muito, porém jamais descartam um revisor humano final. Use-as para lapidar seu texto de forma rápida.
  • Capriche nas capas | Aproveite DALL·E, Midjourney ou apps de design com IA para criar mockups de capa. Ajuste o prompt cuidadosamente e peça opinião de leitores-teste. Lembre-se de declarar o uso de IA quando relevante.
  • Cuide dos metadados | Não subestime títulos e descrições: use ferramentas de IA (como o gerador de PublishDrive) para criar descrições atraentes e escolha palavras-chave pesquisadas. Teste títulos e resenhas no ChatGPT perguntando “como otimizar para SEO”.
  • Personalize seu marketing | Invista em segmentação: conheça sua audiência e use anúncios pagos otimizados por IA (Meta Ads, Google Ads) com textos personalizados. Crie listas de e-mail segmentadas e chatbots que recomendem seus livros.
  • Planeje a tiragem com base em dados | Considere usar POD para reduzir riscos e acompanhe relatórios de mercado. Se possível, aproveite dados de plataformas (BookScan, Google Analytics) para ajustar tiragens e formatos (eBook vs. impresso).
  • Esteja atento à ética | Ao usar IA (em texto, imagem ou voz), respeite direitos autorais e transparência. Marque colaborações IA quando necessário e certifique-se de que seu trabalho final reflita seu toque criativo.

A inteligência artificial traz desafios (como a necessidade de curadoria e cuidado ético) mas principalmente oportunidades inéditas para criadores de livros. Em 2025, quem combinar imaginação humana com estas novas ferramentas terá um enorme diferencial. Experimente, teste diferentes soluções e mantenha-se atualizado: dessa forma, você fará da IA uma aliada poderosa em cada etapa da cadeia do livro, desde a ideia inicial até as mãos dos leitores.

Concluindo, mas não finalizando

O livro, como tecnologia e como símbolo, atravessou séculos de transformações. Reinventou-se diante da imprensa, da industrialização, da internet. Agora, diante da inteligência artificial, ele não se dissolve — ele evolui. O que este volume procurou demonstrar é que a IA não é um fim, mas um meio extraordinário para expandir o alcance da escrita, a eficiência dos processos editoriais e a proximidade com os leitores.

Na primeira parte, exploramos como o ambiente digital ampliou a autonomia dos autores, a acessibilidade das plataformas de autopublicação e a fluidez dos processos gráficos, logísticos e comerciais. E na segunda parte, mergulhamos nas possibilidades que a inteligência artificial oferece para transformar essa cadeia: desde a escrita criativa assistida até a personalização da experiência de leitura, passando por revisões inteligentes, capas geradas por IA e estratégias de marketing baseadas em dados.

Ao unir os fios da tradição com os fios da inovação, percebemos que o centro da cadeia produtiva do livro segue intacto: a voz humana, o desejo de comunicar, a arte de contar histórias. A inteligência artificial amplia a tessitura dessa voz, mas não a substitui. Ela oferece ferramentas inéditas — mas cabe ao autor, ao editor, ao leitor, decidir como usá-las de forma ética, criativa e estratégica.

Mais do que nunca, o livro está nas mãos de quem cria. A diferença é que agora essas mãos também contam com a companhia de algoritmos que aprendem, sugerem e colaboram. A pergunta, portanto, não é se a IA vai mudar o futuro do livro — isso já está acontecendo. A pergunta é: como cada um de nós, como autores, editores ou leitores, vai participar dessa nova era?

Cabe a nós fazer dessa transformação não apenas uma revolução tecnológica, mas uma revolução de leitura, de acesso e de expressão. Porque no fim, o que move um livro — impresso, digital ou interativo — é sempre o mesmo impulso ancestral: a vontade de tocar o outro com palavras.

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